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Manhuaçu 139 anos: profissionais avaliam desafios da cidade polo

Manhuaçu comemorou no último sábado, 05/11, 139 anos de emancipação. Apesar de ter seus direitos federativos como cidade, em 1877, Manhuaçu só passou à condição alguns anos depois. Nesse período, perdeu uma área territorial que originou mais de 70 municípios da porção leste do estado de Minas Gerais. O primeiro distrito a se emancipar foi Caratinga, em 1890, e os últimos, Reduto e Luisburgo, em 1995. Apesar do seu desmembramento, Manhuaçu continua sendo a maior cidade da microrregião, além de ser polo-econômico de prestação de serviços. Atualmente, além da sede, a cidade possui os distritos de Dom Corrêa, São Sebastião do Sacramento, Vila Nova, Realeza, Ponte do Silva, São Pedro do Avaí, Palmeiras do Manhuaçu e Santo Amaro de Minas, com as vilas de Palmeirinhas, Bom Jesus de Realeza.

Atualmente, o município tem mais de 628 km² e conta com uma população estimada de 87.735 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cidade vem crescendo em um ritmo acelerado e com isso, novos desafios vão surgindo a frente de segmentos básicos para o funcionamento natural do município. Questões envolvendo a violência, trânsito, saúde, economia, educação, são pilares essenciais para o desenvolvimento da cidade e carecem de observações mais elaboradas por partes dos órgãos municipais.

E com o aniversário da cidade, nada melhor do que analisarmos essas questões através do conhecimento de especialistas nos assuntos apresentados, levando em consideração a isenção por parte dos mesmos e apenas as análises de quem possui conhecimento de causa.

Saúde

Começando pela área da saúde, um dos principais segmentos que atraem pacientes de outras cidades para Manhuaçu em busca de tratamento. A cidade conta com o Hospital César Leite (HCL) e Unidades de Estratégias de Saúde da Família (ESF’s), espalhadas por todos os bairros. A estrutura da saúde é analisada pelo médico Dr. Luís Carlos Lemos Prata, que é enfático ao afirmar que Manhuaçu “vive atualmente um caos na saúde pública”. Segundo ele, desde as direções municipais tomadas em relação a saúde, quanto ao funcionamento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que “está sempre lotada e com falta de material e condições de trabalho”, até o funcionamento do HCL, “que recebe as hospitalizações mais caras, os tempos de permanências mais longos, as cirurgias mais complexas, todos os partos de Manhuaçu e região, praticamente. Por isso o Hospital vem passando por uma situação muito grave em que na verdade a gente não vislumbra um futuro feliz para o momento”.

A respeito do momento vivido pelo HCL, Luís Prata Lemos salienta que não existe política de apoio da União e do Estado. Ele conta que a União tem transferindo somente o básico para o HCL, isto é, a produção da hospitalização. Ele prossegue afirmando que o Estado nem isso tem feito, já que há 1 ano não repassa a verba proveniente do Pro-Hosp (um Programa do governo estadual), e as prefeituras das cidades vizinhas só utilizam do serviço hospitalar, transferindo pacientes, e não contribuem com nada.

O médico entende que, com as poucas verbas advindas das esferas Federal, Estadual e Municipal, então deve-se fazer o básico. “Hoje nós estamos na seguinte situação: já temos ESF’s, portanto devemos melhorar o atendimento nesses locais, ver quantos clientes cada médico está atendendo por dia, observar o índice de resolutividade desses profissionais e ver se eles estão cumprindo realmente o papel que lhes compete, este é o primeiro item. O segundo é ter uma infraestrutura laboratorial, através de compartilhamento em rede, para interligar as fichas dos pacientes atendidos. Outra coisa a ser feita é criar uma infraestrutura de especialidades para atendimento dos pacientes, melhorar o convênio com o Consórcio Intermunicipal de Saúde Verde – CIS-VERDE, com o objetivo de ampliar os serviços de atendimentos. E por fim, ver as necessidades básicas do Hospital César Leite e ajudar a resolver as possíveis carências”, sugere o médico.

Trânsito

A mobilidade urbana em Manhuaçu é tema de vários debates. A quantidade de veículos que circulam pela cidade vem aumentando visivelmente. A partir das 18h, de segunda a sexta, um percurso que poderia ser percorrido em minutos acaba gastando mais de uma hora. Além disso, estacionar em alguma das principais vias da cidade, em determinado horário é quase impossível.

Segundo o especialista em segurança no trânsito, Fernando Portes, Manhuaçu é uma cidade com mais de 100 anos e suas ruas, principalmente as da região central, não foram projetadas para receber um trânsito tão intenso como ocorre atualmente. “Para se ter ideia, segundo dados do Denatran, o município fechou 2015 com uma frota na ordem de 35.047 veículos, e hoje, faltando dois meses para fechar o ano, atingimos o patamar de 36.775 veículos cadastrados (emplacados) no sistema Detran/MG. Observando os registros do Denatran, nos últimos anos, o Detran vem emplacando mais de mil veículos por ano no município de Manhuaçu”, afirma.

Fernando Portes explica que a cidade está crescendo, e a cada ano mais bairros periféricos surgem. Ele salienta que a tendência é que as pessoas adquiram mais de um veículo por família, até porque o transporte público não atende à demanda. “E considerando a população sazonal das cidades circunvizinhas, que por aqui passa diariamente em busca de faculdades, médicos, serviços bancários, comércio em geral, a tendência é um trânsito caótico, pouca fluidez e densidade elevada como ocorre, por exemplo, no bairro Coqueiro nos horários de grande movimentação. Mesmo àquelas ruas consideradas corredores principais, coletoras como as ruas Antônio Wellerson, Amaral Franco, Monsenhor Gonzalez, Salime Nacif, Getúlio Vargas, nos horários de pico não dão vazão suficientes, e como consequência surgem a impaciência, acidentes e os conflitos entre os usuários das vias”, explica.

De acordo com Fernando Portes, um dos desafios para a Prefeita eleita, considerado medida urgente é a criação de uma Secretaria ou Departamento Municipal de Trânsito, que não será o “salvador da pátria”, mas poderá implantar mudanças para aliviar o que hoje se considera caótico, insustentável. “É importante o município criar o Departamento de Trânsito, para que possa integrar ao Sistema Nacional de Trânsito e exercer plenamente de acordo com o artigo 24 do Código de Trânsito Brasileiro suas competências; e, ainda, para que possa receber do Ministério das Cidades, recursos direcionados para o trânsito através de projetos apresentados e aprovados pelo Ministério”.

Fernando Portes sugere algumas medidas que podem aliviar o trânsito em Manhuaçu, como o Projeto de Lei 082/12, aprovado pela Câmara Municipal, que dispõe sobre o trânsito de veículos pesados (carga igual ou superior a seis toneladas) em vias públicas centrais da cidade. “No projeto consta as ruas, horários e dias de restrição”

De acordo com Fernando é preciso desafogar a Avenida Getúlio Vargas, no bairro Coqueiro, com implantação do sentido oposto na Salime Nacif até a altura do shopping, saindo na Capitão Rafael. Ele salienta que mesmo havendo resistência por parte de comerciantes, e moradores da Salime Nacif, devido à perda de espaço para estacionamento, essa medida é imprescindível. “Evidentemente, próximo ao shopping a interseção terá que ser semaforizada, assim como nas imediações da casa de cultura. O condutor vem da rodoviária, por exemplo, tem a opção de ir para o Coqueiro ou acessar a Salime Nacif subindo. O condutor que descer a Salime Nacif tem a opção de ir para o Coqueiro via Antônio Pupim como ocorre atualmente ou a rodoviária acessando a Capitão Luiz Quintino. Outro detalhe é que a Salime Nacif deverá dispor, em algum ponto de uma área de carga/descarga, para atender o comércio local”, exemplifica.

Outra sugestão apresentada por Fernando refere-se à implementação de semáforo na interseção nas imediações do estádio JK, próximo ao supermercado Paxá. Um ponto estratégico abordado pelo especialista é a interseção que dá acesso à rua Monsenhor Gonzalez, nas proximidades do restaurante Sabor da Fazenda. “É um cruzamento com pouca visibilidade e passível de acidentes”.

Entre as questões abordadas, Fernando Portes, diz que é preciso revitalizar a cidade com sinalização de acordo com as normas estabelecidas pelo Contran. “Existe a necessidade de retirar placas antigas desatualizadas. Por exemplo, ainda tem placas indicativas de SUS (pronto socorro) direcionando os condutores para o bairro Todos os Santos”. Ele diz que as placas de sinalização recentemente instaladas também devem ser mudadas, pois contém letras fora do padrão (pequenas demais). “A placa deve ser vista à distância e ser lida em tempo hábil para a tomada de decisão do condutor”.

As alterações sugeridas pelo especialista também incluem a manutenção do semáforo para pedestre nos cruzamentos, reestudar o tempo de espera para travessia de pedestre no cruzamento próximo a loja Ricardo Eletro, sinalizar com placas indicativas a interseção nas imediações da Calpen Auto Peças e praça da rodoviária, com indicação de saída para rodovias, bairros, baixada e cidades vizinhas, sinalizar o cruzamento da Barão do Rio Branco com a praça Adolfo Assad, próximo à Sema, indicando acesso para o bairro Engenho da Serra,  Simonésia,   BR 262 e centro, semaforizar e  sinalizar com placas indicativas a interseção da Avenida Melo Viana com Barão do Rio Branco.

Educação

Quanto as instituições educacionais, pode-se afirmar que Manhuaçu teve um salto nos últimos 16 anos, pelo menos quando se refere ao aumento de Faculdades no município. É o que afirma Clóvis Dornelas, professor no Colégio Tiradentes, vice-diretor da Escola Estadual Maria de Lucca Pinto Coelho, e Ex-Superintendente Regional de Ensino. Ele explica que as faculdades de Manhuaçu são advindas da iniciativa privada. Entretanto, o aumento de cursos superiores na cidade possibilitou que estudantes não precisassem mais se locomover para outros lugares, como Juiz de Fora e Belo Horizonte, outrora reconhecidos como referências para cursar faculdade.

Porém, o professor Clóvis ressalta que ainda falta maior interesse por parte dos políticos quanto a ampliação da educação, tanto a nível municipal quanto estadual. Ele diz que quase todos os setores avançam e a educação fica para trás, quando se fala em investimento, por isso, os baixos rendimentos nos ensinos fundamental e médio.

Sobre os investimentos na parte municipal, em que Manhuaçu se considera uma cidade polo, Clóvis fala sobre a situação do ensino na cidade. “Se olharmos a realidade dentro do município, hoje nós não temos um prédio modelo para a parte da educação, ou uma escola municipal que seja referência. Você dá uma volta nos bairros e percebe muitas escolas em prédios alugados, com salas de aulas adaptadas. Nesse sentido, nós temos que ter mais investimentos nessa parte pedagógica, de preparação dos professores e uma rede física modelo”.

O Professor Clóvis espera uma maior integração por parte da futura administração municipal, tendo em vista que o desenvolvimento educacional de Manhuaçu carece de maior apoio. Ele também acrescenta que a participação familiar junto as instituições de ensino é fundamental para o melhoramento dos alunos. Como exemplo, ele cita um projeto do Colégio Tiradentes desenvolvido junto a Polícia Militar, em que foi criado uma Associação de Pais e Mestres, que participam voluntariamente das ações desenvolvidas dentro do colégio. “Os pais são convidados e participam de assembleia, emitem opiniões e sugestões para o melhorar o ensino dos alunos”.

Para a diretora do Colégio Tiradentes, Valéria Xavier, Manhuaçu é referência em educação, tanto no âmbito regional quanto estadual. “Temos excelentes faculdades e cursos. Pessoas de fora da cidade vem estudar em Manhuaçu, devido ao progresso educacional. Essa iniciativa é importante para a sociedade e, principalmente, para nós, educadores”, salienta.

Segurança

Segmento que vem deixando a população apreensiva, a segurança tem se tornado tema diário entre a população. A morte envolvendo adolescente, os assaltos cometidos a luz do dia, entre outras situações pertinentes a violência mostra que Manhuaçu não cresce somente no quesito populacional.

De acordo com o comandante do 11º Batalhão da Polícia Militar, Tenente-Coronel Sérvio Túlio Mariano Salazar, por ser considerada polo regional, Manhuaçu concentra problemas referentes a cidades de porte maior e a questão da violência não é diferente. Ele afirma que para conter essa situação preocupante, “a Polícia Militar vem trabalhando diuturnamente no combate à criminalidade, inclusive a criminalidade que não é violenta, mas que incomoda o cidadão, que são os pequenos furtos, aqueles indivíduos que reiteram na prática de crimes. Ao longo dos anos obtivemos muitos resultados positivos e temos conseguido manter uma condição de segurança adequada em Manhuaçu e a presença do Batalhão ajuda muito isso”.

Tenente-Coronel Sérvio Túlio Mariano explica que os índices criminais estão controlados, e o trabalho em conjunto com o cidadão, e outras instituições que compõem o sistema de defesa social, além do Poder Judiciário e o Ministério Público tem trazido resultados importantes quanto ao combate da criminalidade e a manutenção da segurança pública. O comandante do 11º Batalhão acrescenta que ainda há muito o que fazer, as necessidades existem e a Polícia Militar não detém o controle sobre todos os problemas.

Ele diz que o aspecto de cidade interiorana de Manhuaçu aos poucos vem sendo alterada, acompanhada da globalização. No entanto, ressalta que o município ainda mantém o clima acolhedor, porém carece de necessidades dignas de uma cidade referência regional e que vem se afirmado dentro do cenário estadual. “Quem vive em Manhuaçu sabe que a cidade precisa de muita coisa para melhorar, e a área de segurança pública também precisa avançar. Temos uma condição que eu avalio estável, mas temos muito a melhorar. Houve mudanças, não é mais aquela cidade do interior em que podíamos deixar as crianças a vontade na rua, porque o cenário atual é outro. E muitas situações contribuíram para essa alteração”.

O comandante do 11º Batalhão da Polícia Militar diz que o cidadão de bem é essencial para o trabalho dos policiais militares no combate a violência. Sérvio Túlio Mariano lembra que o cidadão não pode se omitir, ele tem que se apresentar e participar com a informação junto com a Polícia Militar nas soluções dos problemas de segurança Pública. “Na Constituição de 1988 está escrito que a segurança é dever do estado e responsabilidade de todos. Isso não é simplesmente uma frase que está inserida na Constituição, ela deve ser cumprida. Só assim vamos avançar na área de segurança e retirar do nosso ambiente aquelas pessoas que estão sujeitas a praticar crimes e assim atrapalhar a vida do cidadão de bem”, finalizou.

Abaixo, confira alguns trechos da entrevista:

 

A estrutura da saúde é analisada pelo médico, Dr. Luiz Carlos Lemos Prata

 

 

 

Professor Clóvis Dornelas faz uma avaliação do atual cenário educacional em Manhuaçu

 

 

 

O comandante do 11º Batalhão, Tenente-Coronel Sérvio Túlio Salazar, diz que Manhuaçu concentra problemas referentes a cidades de porte maior e a questão da violência não é diferente

 

 

Danilo Alves/Jailton Pereira/Lívia Ciccarini

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