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Missionários Sacramentinos desenvolvem trabalho de humanização e evangelização em Angola  

Superior Geral da Congregação, Pe. Aureliano de Moura Lima esteve conhecendo as ações desenvolvidas com a população local 

Angola, país localizado na costa ocidental da África e banhado pelo oceano Atlântico, ocupa uma área de 1.246,700 km² onde vivem cerca de 18,4 milhões de habitantes. Sua capital é Luanda, e a nação compõe um dos países que tem o português como língua oficial. A estrutura política de Angola possui a característica de concentrar o poder nas mãos do presidente, que conta com o auxílio de um primeiro ministro acrescido do conselho de ministros. O país é dividido internamente em províncias, que totalizam dezoito cujos líderes ou governadores de cada uma são escolhidos pelo presidente.

Após décadas de guerra civil, o país enfrenta diversos problemas de caráter social, uma vez que Angola é um dos países mais pobres do mundo. Apesar do cenário caótico, a nação guarda uma das maiores forças que o mundo pode ver, o amor entre os seres humanos. A experiência vivida pelo Superior Geral da Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora, Padre Aureliano de Moura Lima, SDN, relata isso. Ele permaneceu por quinze dias na Paróquia Santo Antônio, cuja sede está na Comuna de Kavungo – que se assemelha a distrito – o local está a 1.700 quilômetros de Luanda, na província de Moxico – correspondente a Estado. (É a maior província do país. Tem uma dimensão de 223.023 quilômetros quadrados e sua população aproximada é de 750 mil habitantes), no município de Alto Zambeze (cuja área é de 48 356 km²). A Paróquia compreende duas Comunas, Kavungo e Caianda, com 31 comunidades atendidas pelos Missionários Sacramentinos.

Durante os dias de permanência em Angola, Pe. Aureliano esteve em companhia dos Padres Odésio Magno da Silva, SDN e Renato Dutra Borges, SDN que estão há cinco anos desenvolvendo um trabalho humanitário e evangelizador permanente com as comunidades locais.

Toda essa ação missionária foi iniciada em janeiro de 2012. Antes de ter o apoio de Pe. Odésio, Pe. Renato Dutra contou com a participação do Pe. João Lúcio. Na época, o então Superior Geral da Congregação, Pe. Geraldo Magela de Lima Mayrink esteve presente juntamente com os dois sacerdotes dando início às primeiras ações na comunidade africana.

As necessidades básicas dos moradores de Kavungo e região deixaram o Pe. Aureliano tocado. Setores da educação e saúde são imensamente precários, abandonados pelo governo. “A questão da educação e da saúde são muito precárias. O Governo construiu, há uns três anos, uma escola nova e moderna, mas que não possui professores. Houve concurso para preencher esta lacuna, mas não houve convocação dos aprovados. Poucas crianças frequentam a escola. A outra dimensão é a da saúde. Existe um posto de saúde na Comuna, que deve ter uns três mil habitantes, porém a unidade não tem praticamente nada. Saúde e educação estão em completo abandono”, conta.

Pe. Aureliano ressalta que as principais doenças encontradas na região são a malária – a que dão o nome de paludismo, e a febre tifoide, além de outros males relacionados a deficiência de alimentação. Além das doenças, é alto o índice de natalidade infantil – como de mortalidade, pois a geração de filhos é algo cultural na família angolana, tanto que cada mãe tem pelo menos de 6 a 8 filhos. Como não há aparato tecnológico nem escola nem outras atividades lúdicas, as crianças ficam por ali: brincam, andam de um lado para o outro, banham no rio, alimentam-se de manga verde nesta época, etc. “É bom saber também, que estas conquistas sociais que temos no Brasil, como aposentadoria e outros benefícios sociais, não chegaram lá. Adoeceu, ficou idoso, tem alguma deficiência: não tem os subsídios governamentais que já temos assegurados aqui”, relata Pe. Aureliano em questionamento acerca dos serviços sociais para os adultos.

Em busca de uma nova realidade

Não há dúvida que Angola é um país pobre e passa por mazelas indescritíveis. Mas a força de um povo que sofreu quarenta anos de guerra civil e com governo corrupto, não é maior do que a força de um sorriso ou de um abraço, e isso a comunidade de Kavungo tem de sobra. “Ao chegar lá e sentir aquelas pessoas e como elas nos acolheram com um imenso carinho, é maravilhoso. Sem contar o carinho que elas demonstram pelos padres e pelas Irmãs de Nossa Senhora do Amparo, que atuam lá também. A população tem um grande carinho por nós, um respeito muito grande e, ao estar ali, participar das celebrações, fazer visitas às comunidades, sentir como aquelas pessoas vivem, e a forma carinhosa de como olham para nós, foi uma emoção muito forte”, disse o Pe. Aurelianode Moura Lima.

Mesmo que a realidade seja dura e cruel, não quer dizer que ela não possa ser melhorada. Através do aprofundamento da Palavra de Deus, das celebrações e de uma presença evangelizadora, a Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora busca motivar a população na questão da educação e escolaridade, para que possuam um bem intransferível que é o saber e o conhecimento, do aprendizado do português que favorece o próprio trabalho dos moradores, o compromisso de serem mais cuidadosos com os próprios filhos, além de criarem um elo com o governo para que tenham benefícios inerentes a todo ser humano, como educação e saúde.

Além das atividades em prol da população, os Missionários Sacramentinos procuram levar a Palavra de Deus às comunidades da Paróquia com o objetivo de formação integral: saúde, educação, fraternidade, perdão, ajuda mútua, compromisso com Deus, com a Igreja, com a família e com os irmãos. “Eu compartilhei um pouco dessa experiência e pude ver que as pessoas ficam alegres em nos receber, pois sabem que não vamos explorá-las, mas sim ter uma presença na vida deles”.

Devido às dificuldades das estradas no tempo de chuva e pelo fato de as famílias se transferirem para as lavras (plantação de milho, feijão, mandioca), as visitas às comunidades são realizadas de maio a outubro. As distâncias são grandes; percorrem 200Km em estradas e trilhos muito ruins. Nos outros meses, ou vem de férias ou ficam nas comunidades de perto, preparando cursos, encontros para a próxima estação de trabalho.

A evangelização levada pelos sacerdotes não tem como objetivo mudar a cultura do povo angolano, mas sim auxiliá-los na preservação de métodos que trará uma qualidade de vida melhor, tanto para crianças, jovens, adultos e idosos. A cultura não é mudada, mas por vezes precisa ser evangelizada.

“Muita coisa boa já foi feita, foi trabalhada. Agora, é preciso ter continuidade, porque aquelas crianças olham para gente, e no olhar delas nós lemos um clamor. Não que elas chorem, mas na alegria, no brilho dos olhos daquelas crianças e das famílias se caracteriza uma esperança, um desejo. E nós, Missionários Sacramentinos, precisamos ser uma presença de continuidade, alimentando a esperança no coração daquele povo. Sonhando novas perspectivas, seja na educação, talvez na criação de projetos sociais, em parceria com o governo ou outras ONG’s, que vão desenvolvendo no coração daquelas crianças esse espírito de sobrevivência, de perspectiva de vida, de sonho, esperança e realização pessoal. A realidade no coraçãozinho de cada criança precisa ser trabalhada e desenvolvida e nós estamos e queremos continuar em Angola para dar prosseguimento a este trabalho”, destacou Pe. Aureliano.

Em seu blog http://aurelius.blogs.sapo.pt/, o Superior Geral da Congregação, Pe. Aureliano de Moura Lima relata o que viu em Angola durante as ações desenvolvidas pelos Missionários Sacramentinos

O que vi em Angola

 Vi Padres e Irmãs abnegados e oferentes numa missão árdua, mas geradora de alegria e de esperança.

Vi alegria vibrante em cada comunidade, em cada celebração, nos olhares e nos lábios, no canto e na dança, na reza e ao redor do fogo, na veste e no tambor.

Vi milhares de crianças cujos olhares clamam oportunidades e possibilidades. Necessidade de educação e ensino.

Vi mulheres trabalhadoras e dedicadas ao cuidado dos filhos, ao mesmo tempo que sofridas por uma dor calada.

Vi necessidade de presença missionária que acolhe, que acalenta, que consola, que firma valores e princípios cristãos.

Vi horizontes que precisam ser abertos a pais de família que não sabem como abrir trilhas em mata perigosa.

Vi doenças que precisam ser debeladas.

Vi anseios de alfabetização, de aprendizado, de conhecimento.

Vi longos caminhos percorridos. Vi estradas difíceis de ser trilhadas.

Vi sinais claros de Deus a nos convidar para nos desinstalarmos de nosso comodismo, de nosso egoísmo, de nossas murmurações sem fim. “Jesus convida, conta contigo, mas é preciso ter coragem de morrer”.

Vi forte convite a dar-nos as mãos, a dobrar os joelhos no chão, a abrir o coração, a fortalecer a missão.

A participação na missão se dá de três formas: com os pés que avançam; com os joelhos que se dobram; com as mãos que partilham para manutenção da missão. Portanto, ninguém pode dizer que não tem condições de ser missionário, de participar da missão. E uma Igreja que não é missionária não é católica. Pois a razão de ser da Igreja é a missão evangelizadora.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Danilo Alves                 

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