Contágio por chikungunya se alastra e vira novo desafio em Minas
Estado, ainda às voltas com o maior surto da história de febre amarela, tem primeira morte suspeita pela doença, cujo número de casos, em 70 dias, já é 358% maior do que em 2016
Enquanto as atenções de autoridades sanitárias e da população mineira se voltam para a febre amarela silvestre, que já registra 110 mortes no estado neste ano, outra doença explode silenciosamente, sem encontrar, na avaliação de especialistas, resposta adequada. Na terça-feira, 14/03, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) divulgou a primeira morte investigada por febre chikungunya na história de Minas, em meio à disparada do número de casos notificados da doença.
Neste ano, até a última segunda-feira, foram 2.296 registros de chikungunya – número que já é mais de quatro vezes maior que o contabilizado ao longo de todo o ano de 2016, quando houve 501 notificações e pela primeira vez verificaram-se casos autóctones da doença – ou seja, de contaminação dentro do próprio estado. Sem vacina e com controle precário do mosquito Aedes aegypti, que transmite a doença e também a dengue, a zika e a febre amarela, especialistas projetam um cenário de risco, com ameaça de sérios impactos nos serviços de saúde e de previdência, já sobrecarregados.
Segundo um dos diretores da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico Carlos Starling, diferentemente das demais doenças transmitidas pelo Aedes, a chikungunya tem um grande número de casos que evolui para a forma crônica. Além disso, é elevado o percentual de pacientes que precisam se afastar do trabalho e das atividades domésticas por impactos da virose. “Entre 10% e 20% dos pacientes desenvolvem dor aguda, que se comporta como reumatismo e acomete músculos e articulações. Em algumas pessoas, os sintomas podem durar entre dois e três meses e há um número alto de infectados que fica doente por até três anos”, afirma o especialista.
Para o médico, com consequências tão graves, os serviços de saúde serão ainda mais cobrados. “A assistência aos pacientes vai exigir muita reabilitação, fisioterapia, mais leitos e outros serviços que não estão sendo planejados na medida adequada para essa doença, que tem impactos social e econômico gigantescos. Com os afastamentos do trabalho, outro problema será a concessão de aposentadorias em um momento já de crise na Previdência”, ressalta.
De acordo com Carlos Starling, o aumento expressivo dos casos já era previsto desde o ano passado, já que a população estaria exposta a um agente para o qual ainda não tem imunidade. “As pessoas ainda não tinham entrado em contato com o vírus que está circulante. E, infelizmente, a tendência é de aumento até o fim do ano e também nos anos seguintes, com crescimento exponencial”, diz.
Para piorar, outro fator preocupante é a região em que a doença se concentra no estado: os municípios que mais sofrem são os dos vales dos rios Doce, Jequitinhonha e Mucuri. A cidade com o maior número de casos prováveis é Governador Valadares, com 1.043 notificações, seguida de Teófilo Otoni, com 427, Conselheiro Pena (280), Pedra Azul (86), Aimorés (72), Medina (66) e Almenara (61). Belo Horizonte tem 31 casos prováveis. “Essas são áreas já carentes de recursos de saúde, que sofrem com deficiência de instalações, equipamentos, profissionais e leitos. A situação só tende a piorar”, avalia o representante da Sociedade Mineira de Infectologia.
Ele lembra ainda que a incidência da doença nessas regiões, bem como seu aumento elevado em todo o estado, são fatores que exigem olhar especial do governo do estado e das prefeituras.
A SES confirmou, por meio de nota, que o aumento no número de casos de chikungunya já era previsto, uma vez que a doença nunca havia circulado no estado até 2016. Sobre as atuais áreas prioritárias em Minas – Governador Valadares e Teófilo Otoni –, a SES explicou que o plano de contingência da pasta prevê apoio para implantação de unidades de hidratação, fornecimento extra de medicamentos e insumos para atendimento. E informou ainda que está organizando treinamento dos profissionais de saúde, por meio de teleconferências e envio de médicos para capacitação em serviço.
Febre amarela avança e já tem 1.090 registros
O número de casos de febre amarela silvestre segue avançando em Minas. Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) mostram que já são 1.090 notificações da doença registradas até a última terça, média de 15 por dia. Exames confirmaram a doença em 310 dos casos e 57 foram descartados. Segundo o balanço epidemiológico divulgado pela pasta, são 110 óbitos registrados pela doença e outras 75 ainda sob análise por suspeita da virose. Esse é o pior surto da história do país registrado pelo Ministério da Saúde. A situação mais grave ocorre nos vales dos rios Doce e Mucuri.
Ladainha lidera o número de casos confirmados, com 35 moradores com diagnóstico positivo para a doença e 73 casos ainda sob investigação. Novo Cruzeiro está em segundo lugar com 27 casos confirmados e outros 68 em investigação. Caratinga vem em seguida, com 25 confirmações e outros 126 casos sendo apurados.
Fonte: Estado de Minas