Religião: Biomas brasileiros e a defesa da vida
“A Campanha da Fraternidade 2017 nos ajuda a entender mais profundamente o sentido da Quaresma, que é um tempo forte de mudança de vida e de preparação para a Páscoa: passagem para a Vida Nova em Cristo, vida de amor verdadeiro, baseado na gratuidade e na busca de radicalidade. Sem esse amor verdadeiro não há Fraternidade (ou Irmandade)”, escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP) e professor aposentado de Filosofia (UFG)
Eis o artigo.
Cultivar e guardar a criação (Gênesis 2,15)
Há 12 anos, em 16 de fevereiro de 2005, cerca de 14 mil pessoas foram brutalmente despejadas da Ocupação “Sonho Real”, no Parque Oeste Industrial, em Goiânia, através das Operações Criminosas – cínica e maldosamente chamadas – “Inquietação” e “Triunfo”.
Apresentando a Campanha da Fraternidade 2017, não posso deixar de fazer – mais uma vez – a memória desse fato, que considero o maior pecado contra a fraternidade de toda a história de Goiânia. É difícil acreditar que seres humanos – em nome do deus dinheiro (ganância financeira e especulação imobiliária) – possam chegar a praticar tamanha barbárie e com tanta crueldade!
Infelizmente, as autoridades responsáveis pelas Operações “Inquietação” e “Triunfo” – verdadeiras Operações de guerra nazistas – continuam impunes até hoje. Elas não perdem por esperar! A Justiça de Deus tarda, mas não falha! Que aguardem!
A Campanha da Fraternidade deste ano tem como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e como lema “Cultivar e guardar a criação” (Gênesis 2,15).
O objetivo geral é: “Cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho”.
Os objetivos específicos são:
- “Aprofundar o conhecimento de cada bioma, de suas belezas, de seus significados e importância para a vida no planeta, particularmente para o povo brasileiro.
- Conhecer melhor e nos comprometer com as populações originárias, reconhecer seus direitos, sua pertença ao povo brasileiro, respeitando sua história, suas culturas, seus territórios e seu modo específico de viver.
- Reforçar o compromisso com a biodiversidade, os solos, as águas, nossas paisagens e o clima variado e rico que abrange o chamado território brasileiro.
- Compreender o impacto das grandes concentrações populacionais sobre o bioma em que se insere.
- Manter a articulação com outras igrejas, organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e todas as pessoas de boa vontade que querem a preservação das riquezas naturais e o bem-estar do povo brasileiro.
- Comprometer as autoridades públicas para assumir a responsabilidade sobre o meio ambiente e a defesa desses povos.
- Contribuir para a construção de um novo paradigma econômico ecológico que atenda às necessidades de todas as pessoas e famílias, respeitando a natureza.
- Compreender o desafio da conversão ecológica a que nos chama o nosso Papa Francisco na carta encíclica Laudato Si e sua relação com o espírito quaresmal” (Texto-Base, 10).
Um bioma é “um conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica própria” (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Mapa de Biomas e Vegetação, 2004).
Em outras palavras, um bioma é uma grande área de vida formada por um conjunto de ecossistemas com características semelhantes.
No Brasil temos seis biomas: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa. Nesses biomas vivem pessoas e povos, que são o resultado da miscigenação brasileira.
O Papa Francisco propõe uma ecologia integral, “entrelaçando todas as dimensões do ser humano com a natureza. Para ele, cada criatura tem sua mensagem, que precisa ser respeitada e entendida. Mas todas elas estão interligadas. Toda a Laudato Si é um hino de espanto maravilhado diante da natureza criada que nos fala de Deus, que é um dom de Deus, da qual nós seres humanos somos parte integrante, mas também seus zeladores e cultivadores”. Francisco nos coloca também “diante dos desafios colossais enfrentados pela humanidade, que está em uma verdadeira encruzilhada, em uma mudança de época”.
“As Igrejas particulares, Comunidades Eclesiais de Base, Pastorais Sociais, Semanas Sociais Brasileiras, Fóruns das Pastorais Sociais, o Grito dos Excluídos, muitos se aproximaram do nosso povo para defender seus direitos e para promover a convivência harmônica com o meio ambiente em todo o Brasil” (Texto-Base, 8 e 9)
Os cristãos e cristãs e todas as pessoas de boa vontade precisam ser uma voz profética que – com consciência crítica – chama a atenção para os desafios e problemas da questão ecológica, aponta suas causas e, sobretudo, indica caminhos para sua superação.
A Campanha da Fraternidade 2017 nos ajuda a entender mais profundamente o sentido da Quaresma, que é um tempo forte de mudança de vida e de preparação para a Páscoa: passagem para a Vida Nova em Cristo, vida de amor verdadeiro, baseado na gratuidade e na busca de radicalidade. Sem esse amor verdadeiro não há Fraternidade (ou Irmandade).
Meditemos e Oremos!
Oração da CF 2017:
Deus, nosso Pai e Senhor, nós vos louvamos e bendizemos, por vossa infinita bondade. Criastes o universo com sabedoria e o entregastes em nossas frágeis mãos para que dele cuidemos com carinho e amor. Ajudai-nos a ser responsáveis e zelosos pela Casa Comum. Cresça em nosso imenso Brasil o desejo e o empenho de cuidar mais e mais da vida das pessoas e da beleza e riqueza da criação, alimentando o sonho do novo céu e da nova terra que prometestes. Amém!
(Leiam o Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2017. Edições CNBB).
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos (IHU)