Preservação dos biomas brasileiros é tema da Campanha da Fraternidade 2017
Com o tema Fraternidade: biomas brasileiros e a defesa da vida, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) abriu na quarta-feira, 01/03, a Campanha da Fraternidade (CF) 2017. O objetivo da ação é dar ênfase à diversidade de cada bioma, promover relações respeitosas com a vida, o meio ambiente e a cultura dos povos que vivem nesses biomas. “Este é, precisamente, um dos maiores desafios em todas as partes da terra, até porque as degradações do ambiente são sempre acompanhadas pelas injustiças sociais”, disse o Papa Francisco, em mensagem ao Brasil.
Criada em 1962, a Campanha da Fraternidade é lançada todo ano na quarta-feira de cinzas, quando tem início a Quaresma, período de 40 dias no qual a Igreja Católica convida os fiéis a praticar a oração, o jejum e a caridade. O texto-base da Campanha da Fraternidade 2017, que tem como lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2.15), aborda cada um dos seis biomas brasileiros, suas características e significados, desafios e as principais iniciativas já existentes na defesa da biodiversidade e da cultura dos povos originários.
Entre as ações propostas estão o aprofundamento de estudos e debates nas escolas públicas e privadas sobre o tema abordado pela campanha. Segundo a CNBB, o fortalecimento das redes e articulações, em todos os níveis, também é proposto com o objetivo de suscitar nova consciência e novas práticas na defesa dos ambientes essenciais à vida. Além disso, o texto chama a atenção para a necessidade de a população defender o desmatamento zero para todos os biomas e sua composição florestal.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lembrou ainda que, na mensagem do Papa Francisco aos brasileiros, o pontífice orienta os fiéis a observar o modo como os povos originários de cada bioma convivem com a natureza. Assim, segundo Francisco, “será possível encontrar um modelo de sustentabilidade que possa ser uma alternativa ao afã desenfreado pelo lucro que exaure os recursos naturais e agride a dignidade dos pobres”.
No campo político, o texto-base da campanha incentiva a criação de um projeto de lei que impeça o uso de agrotóxicos. “Ele indica ainda que combater a corrupção é um modo especial para se evitar processos licitatórios fraudulentos, especialmente em relação às enchentes e secas que acabam sendo mecanismos de exploração e desvio de recursos públicos”, informou a CNBB.
Lema da Campanha e ações práticas do dia a dia
A Campanha da Fraternidade é marcada pelo empenho de todos em favor da solidariedade e fraternidade, sempre abordando temas atuais, que a cada ano propõe uma transformação social e comunitária, seja ela em desafios sociais, econômicos, culturais e até mesmo religiosos, onde toda a população envolvida na Campanha da Fraternidade é convidada a ver, julgar e agir
Segundo o Irmão Denilson Mariano SDN, o texto base da CF 2017 engloba dicas que podem ser inseridas junto a uma educação para o bem vier, e traz algumas informações pertinentes que podem ser usadas no bioma da Mata Atlântica. Ele destaca que a população pode ajudar a recuperar áreas que estão em avançado estado de degradação, provocadas por erosões em virtude de ações inconsequentes do ser-humano.
Outro fato destacado por Denilson Mariano refere-se aos cuidados com praças e jardins das cidades, além das árvores que são plantadas na frente das casas. Para ele, algumas pessoas desconhecem a importância das plantas, e, consequentemente, a convivência harmônica que elas trazem ao meio em que estão inseridas, e acabam depredando e quebrando os agentes biológicos necessários para a qualidade de vida das população e aprimoramento do bioma da Mata Atlântica.
Além da preservação das plantas e árvores de uma cidade, Denilson Mariano destaca a busca por um saneamento básico de qualidade – algo necessário para a construção de uma comunidade que preze pelo bem-estar da natureza. “Inclusive, é um plano da Campanha da Fraternidade 2017. Cito o exemplo de Manhuaçu, que possui uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) que está parada. Por isso, a população deve se inteirar do assunto, procurar se informar sobre a situação da empreitada, visto que a maior parte do investimento já foi realizado. É um direito da população saber de ações que podem ser colocadas em prática para que a ETE volte a funcionar. Inclusive, se o município não se adequar a essas questões poderá, futuramente, perder acesso a financiamento de obras públicas”, afirma.
Segundo Denilson Mariano, ninguém pode assistir inerte à destruição de um bioma, por isso o assunto não pode ser deixado de lado pela Igreja. “Há muito a ser feito por cada um espontaneamente, como mudança no padrão de consumo, cuidados com a água e com o lixo doméstico, mas necessitamos de iniciativas comunitárias, que exigem a participação do Poder Público e ações efetivas dos governos”, disse. “Precisamos de um modelo econômico que não destrua os recursos naturais”, ressaltou.
Ele acrescenta que uma população consciente deve estar atenta quanto ao Plano Diretor de uma cidade, buscar iniciativas de proteção a terra, ajudar na revitalização das bacias hidrográficas, e através de iniciativas como as caixas de contenção de águas pluviais em estradas da zona rural, que fazem com que a água seja mantida no terreno e possa, aos poucos infiltrar novamente no solo e recuperar a vida das nascentes. Além disso, Mariano afirma que deve haver um apoioà agricultura familiar, pois são produzidos alimentos mais saudáveis que chegam a população da zona urbana e, ao mesmo tempo, mantém o sustento do homem do campo.
“São iniciativas que vão mostrando que a Campanha está bem perto de nós. Precisamos passar de uma sociedade do bem-estar para uma sociedade do bem viver, pois a natureza tem bastante recursos para prover aquilo que é necessário para todos. Se buscarmos iniciativas que nos fazem viver bem, encontraremos os recursos naturais a nossa disposição de uma maneira equilibrada com a natureza. Entretanto, ela só não dá conta de fomentar a ganância que está dentro de nós. Se continuarmos depredando e agredindo os biomas ao qual pertencemos, o prejuízo será para a humanidade e, sobretudo para as gerações que virão depois de nós”, finaliza.
Danilo Alves / Leonardo Medeiros