Surto silvestre: Febre amarela preocupa autoridades em Minas Gerais
Novo balanço indica alta nas notificações e revela que 94% das mortes já examinadas foram confirmadas. Se taxa for mantida, total pode chegar a 170 óbitos
O surto de febre amarela silvestre em Minas continua a desafiar as autoridades, preocupar a população e engrossar as filas de vacinação na capital e no interior. Os dados divulgados nesta sexta-feira no boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES) mostram que o número de casos notificados segue aumentando, embora não na mesma intensidade dos meses de janeiro e fevereiro.
O documento revela ainda que o número de mortos (99) quase dobrou no período de um mês (eram 55), e, o mais grave, do total de mortes investigadas (105), apenas seis casos foram descartados, mostrando o alto grau de letalidade da doença.
Segundo o boletim da SES, o total de casos notificados de febre amarela no estado já chega a 1.063, com a confirmação de 260. Os técnicos informam que são 15 novas notificações em relação ao documento da semana anterior, que tinha 1.048 casos.
Até o momento, a doença já teve casos em 88 municípios mineiros, com confirmação em 46. Em relação ao último boletim, que apresentava 87 localidades, o município de Novo Oriente de Minas, no Vale do Mucuri, a 520 quilômetros de Belo Horizonte, aparece como novidade na lista. Ladainha, também no Vale do Mucuri, segue como município com maior número de mortes notificadas: são 21, com 14 confirmadas.
Com os atuais números, fica mais evidente que se trata do pior surto da doença na história do país já registrado pelo Ministério da Saúde. E os dados podem ser ainda maiores, porque o índice de confirmação dos óbitos da doença é muito alto. De acordo com as informações da SES, foram 105 casos examinados até o momento, com 99 confirmados. Esse número representa uma taxa de 94,2% do total de casos examinados. Mantido esse percentual nas mortes que ainda precisam ser apuradas, é possível que Minas chegue a cerca de 170 óbitos pela doença.
Imunização
Diante dos números apresentados ontem, o médico infectologista Unaí Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), prefere falar em epidemia de febre amarela no país, em vez de surto, como têm declarado as autoridades do setor de saúde. “Os dados mostram a gravidade da epidemia, que é de grande magnitude. É uma doença que traz uma letalidade muito alta nos casos graves. Também tivemos casos em outros estados, como Espírito Santo e Tocantins”, disse o especialista.
Tupinambás explica que o bloqueio vacinal contra a doença é a ação mais importante. “A Secretaria de Estado de Saúde tomou as providências necessárias e, por isso, ao se verificar o boletim, vê-se que houve redução no crescimento de casos, numa situação bem diferente da registrada nos meses anteriores”, afirma o médico. Embora a vacinação contra a febre amarela esteja no calendário há 10 anos, Tupinambás conta que muito adultos, principalmente os homens, não se preocupam com a imunização.
Entre os óbitos confirmados no boletim divulgado ontem, 87 foram do sexo masculino, com média de idade de 45 anos. “A vacina é fundamental e as pessoas devem estar com o cartão em dia”, ressaltou o professor da UFMG. Segundo a SES, dados fornecidos pelas unidades regionais de saúde mostram que já foram aplicadas mais de 3,5 milhões de doses da vacina no estado, sendo 1.5 milhão nos municípios da área do surto da doença.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, especificamente no município de Esmeraldas, houve na semana passada registro do primeiro óbito pela doença: um homem de 48 anos, residente em Contagem, morreu no dia 21.
Histórico
Dados oficiais de Minas mostram que, em 2001, houve uma epidemia no Centro-Oeste mineiro, quando 12 municípios registraram 32 casos e 16 óbitos pela forma silvestre da febre amarela. Já em dezembro de 2002, começou um novo surto na Região do Alto Jequitinhonha, com seis cidades atingidas, 64 casos e 23 mortes. Nas duas ocasiões, foi adotada a vacinação casa a casa para frear o avanço da doença.
Em 2008 e 2009, houve duas confirmações de casos, no Noroeste do estado e na Zona da Mata. Nenhum caso humano de febre amarela silvestre foi registrado entre 2010 e 2016.
O Ministério da Saúde tem estatísticas nacionais dos últimos 10 anos. Em 2008, 27 pessoas morreram oficialmente pela doença, de um total de 46 casos. Se confirmados todos os diagnósticos suspeitos em Minas, o estado terá o maior e mais letal surto da doença no país da última década.
Parques
Como medida de prevenção, três parques em Belo Horizonte estão fechados.De acordo com a prefeitura, a interdição, por tempo indeterminado, dos parques Jacques Cousteau, na Região Oeste, das Mangabeiras e da Serra do Curral, ambos na Região Centro-Sul, tem o objetivo de evitar que o surto de febre amarela silvestre que o estado enfrenta chegue à capital, com casos autóctones, ou seja, aqueles contraídos dentro da própria cidade. A visitação também está suspensa no Mirante das Mangabeiras.
Fonte: Estado de Minas – Gustavo Werneck