Palavra de Vida: 3º Domingo de Páscoa
1ª LEITURA -At 2,14.22-33
Este texto faz parte do primeiro dos 8 discursos de Pedro nos Atos dos Apóstolos. Os discursos são importantes, pois refletem a pregação no início da Igreja. Eles ocupam um quinto do livro dos Atos. O esquema geral de um discurso de Pedro ou de Paulo é muito simples.
1. – Introdução – ligando o discurso ou sermão com o acontecimento precedente.
2. – Anúncio de Jesus Cristo, relembrando o que ele fez e o que aconteceu com ele. O fato mais importante é a morte e a ressurreição de Jesus.
3. – Identidade messiânica de Jesus. Mostra pela Bíblia que Jesus é o Messias prometido por Deus, através dos profetas, e esperado pelo povo como Salvador.
4. -Anúncio da remissão dos pecados e convite à conversão para um novo modo de vida animada pela presença do Espírito Santo.
No texto de hoje percebemos que o programa traçado por Jesus em At 1,8 começa a se realizar com o testemunho de Pedro. Ele fala do que Jesus fez (v. 22), como Jesus morreu (v. 23) e anuncia sua ressurreição (v. 24), como vitória sobre a morte. Cita o Sl 16,8-11 como prova definitiva de sua ressurreição. Esclarece que este salmo de Davi não falava dele mesmo, mas do seu descendente no trono, o Cristo. Deus ressuscitou Jesus e o exaltou à sua direita. Do Pai, Jesus recebe o Espírito Santo e o derramou sobre os apóstolos. É isto que o povo está vendo. Seria interessante que o leitor procurasse conferir na Bíblia todo o discurso de Pedro, segundo o esquema que apresentamos.
2ª LEITURA -1Pd 1,17-21
A sociedade no meio da qual os cristãos estão vivendo é muito hostil, dividida entre ricos e pobres, patrões e escravos, nativos e estrangeiros, onde os primeiros abusam dos segundos. O autor quer mostrar o novo modo de vida dos cristãos a partir da fé e da esperança. Todos devem se considerar iguais diante de Deus, que julga com imparcialidade cada um, de acordo com o seu modo de agir. Não é o ter que importa, mas o novo modo de ser. O projeto de Deus exige comunhão e coerência de vida. Esta exigência brota do sangue que Cristo derramou por eles. Enquanto a sociedade em que viviam compram vidas humanas (escravos) para seu serviço, Jesus dá sua vida como prestação de serviço a todos. A vida cristã é o inverso da vida da sociedade. No lugar do egoísmo, o cristão se abre para o outro como Cristo o fez, para que todos possam ter vida. É esta fé e esta esperança no Deus da vida que deve animar os cristãos a uma vida fraterna e solidária. Um autor escreveu um livro sobre a Primeira carta de Pedro com o título de “Um lar para os que não têm casa”, pois os cristãos pobres e marginalizados encontravam na comunidade um verdadeiro lar. Hoje a Igreja está convocando os cristãos para construir uma casa para quem já tem um lar. O que a sua comunidade está fazendo?
EVANGELHO – Lc 24,13-35
Como os discípulos de Emaús muitos cristãos têm dúvidas quanto à ressurreição de Jesus. O evangelho de hoje traz uma luz sobre este fato. Ele procura responder à pergunta: Onde e como experimentar o Cristo vivo?
Estamos no mesmo dia da ressurreição. Para os que acreditaram, Jerusalém é o lugar da vitória do ressuscitado. Para quem não acreditou Jerusalém sepulta o corpo derrotado de Jesus, e Emaús representa a cidade da cegueira total para onde voltam os dois discípulos frustrados, abandonando o projeto de Deus. Jesus com muita pedagogia entra na conversa, sente o drama dos discípulos. Eles estão por dentro dos acontecimentos, mas não penetram o sentido dos fatos. Reconheceram em Jesus um profeta poderoso em obras e em palavras. Mas isto não basta para ser cristão. Os judeus, até hoje, vêem em Jesus um profeta poderoso em obras e palavras. Os espíritas também pensam assim, mas para ser cristão isto não é suficiente. O importante é crer na ressurreição de Jesus. Jesus poderia, logo de cara, se identificar, mas ele nos ensina como educar para o diálogo, como educar para a fé. Entrou na conversa de mansinho, deixou os discípulos à vontade. Em uma palavra, caminhou com eles, caminhou com suas dúvidas e falta de fé. Agora, identificado com eles, começa a orientá-los. O texto vai mostrar os dois instrumentos que suscitam a fé e nos faz experimentar Jesus hoje. O primeiro é a Bíblia. Jesus parte da Bíblia e vai aquecendo o coração dos discípulos. O Primeiro Testamento fala de Jesus, aponta para Jesus. É Jesus que é a chave de leitura da Bíblia, tanto do Primeiro quanto do Segundo Testamento. Nele as Escrituras se realizam.
De coração aquecido, os discípulos já tomam uma atitude cristã, a da hospitalidade. Convidam Jesus para entrar, pois a noite já estava chegando. Na verdade era o clarão do novo dia que estava raiando para eles e eles não sabiam, pois a Bíblia só não basta. A Bíblia apenas aquece os corações. O que provoca mesmo explosão de vida é a partilha. Eis o segundo instrumento que suscita a fé: a Eucaristia. Aqui as coisas mudam, o hóspede se torna anfitrião. É Jesus, de fato, que parte o pão e aí acontece o milagre. Os olhos deles, que no início da caminhada estavam vedados, se abrem e eles reconhecem Jesus. Aqui acontece outro fato curioso: “Jesus ficou invisível diante deles”. Por quê? Certamente porque o lugar de Jesus não é do lado de fora, mas do lado de dentro. Jesus agora encontrou pousada no coração dos discípulos. Sua presença física no mundo acabava no alto do calvário. Agora ele mora, pela fé, no coração de quem crê. Sua presença física é dispensável, pois a comunidade possui agora os dois sacramentos da presença dele: a Bíblia e a Eucaristia, que são a partilha do pão com os irmãos. A pergunta inicial está respondida. É na leitura da Bíblia, principalmente em grupo e na Eucaristia, como entrega serviço e partilha com os irmãos, que a comunidade experimenta Jesus hoje.
Dom Emanuel Messias de Oliveira