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Tráfico de animais: comércio ilegal é a terceira maior atividade ilícita do mundo

Atividade movimenta entre 10 a 20 bilhões de dólares por ano em todo o planeta. Brasil participa com cerca de 10 a 15% deste valor

O Brasil se encontra entre os países de maior riqueza de fauna do mundo, ocupando a 1ª posição em número total de espécies, com aproximadamente 3 mil espécies de vertebrados terrestres e 3 mil de peixes de água doce. É também o país mais rico em diversidade de mamíferos do mundo com 483 espécies continentais e 41 marinhas, totalizando 524 espécies. Em aves, ocupa a 3ª posição com cerca de 1677 espécies, sendo 1524 residentes e 153 visitantes. A quarta posição em répteis, com cerca de 468 espécies e 1º. lugar em número de anfíbios com cerca de 517 espécies.

Apesar da grande riqueza de espécies da fauna brasileira gerar ideia de abundância, esta normalmente se encontra com números populacionais relativamente pequenos e associada a expressivos endemismos, o que a torna frágil perante aos impactos de desmatamento e caça.  Após a perda do habitat, a caça, para subsistência e comércio, é a segunda maior ameaça à fauna silvestre brasileira. Atualmente, o comércio ilegal de vida silvestre, o qual inclui a fauna e seus produtos, movimenta de 10 a 20 bilhões de dólares por ano, é a terceira atividade ilícita do mundo, depois das armas e das drogas, o Brasil participa com cerca de 5% a 15% do total mundial, e o atual quadro de degradação ambiental que o país enfrenta é o resultado de anos de exploração descontrolada de seus recursos naturais.

Segundo informações da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), a história do tráfico de animais silvestres não é apenas de desrespeito à lei, mas também de devastação e crueldade. O comércio de animais silvestres capturados na natureza sempre foi uma atividade deletéria para a fauna, independentemente de ser legal ou ilegal. O processo de comercialização, técnicas de captura, transporte e manejo, de uma maneira geral, são os mesmos desde o início até hoje, com agravantes por atualmente ser uma atividade ilegal. A entidade esclarece ainda que os animais sempre foram tratados de uma maneira desrespeitosa, vistos apenas como simples mercadorias, utilizados como fonte de rendas.

Rotas do tráfico

A RENCTAS afirma que os países em desenvolvimento são os principais fornecedores de vida silvestre, com parte de suas populações sobrevivendo dessa atividade Entre os principais países exportadores se encontram o Brasil, Peru, Argentina, Guiana, Venezuela, Paraguai, Bolívia, Colômbia, África do Sul, Zaire, Tanzânia, Kenya, Senegal, Camarões, Madagascar, Índia, Vietnã, Malásia, Indonésia, China e Rússia

Portugal, México, Arábia Saudita, Tailândia, Espanha, Grécia, Itália, França e Bélgica são citados como principais países de trânsito comercial de vida silvestre, onde geralmente é feita a legalização de vida silvestre contrabandeada.

Os principais países consumidores são: os EUA (maior consumidor de vida silvestre do mundo), Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, Suíça, Grécia, Bulgária, Arábia Saudita e Japão.

Já a principal rota do tráfico de animais silvestres no Brasil começa nas regiões Norte e Nordeste, com a retirada de espécies da natureza, e segue até o grande mercado consumidor da fauna no país, a região Sudeste.

De acordo com dados do Ibama, os estados brasileiros onde ocorre a maior parte das capturas de animais são: Maranhão, Bahia, Ceará, Piauí e Mato Grosso. Já os estados com o maior mercado consumidor são: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O instituto também aponta que, no Brasil, as aves são as mais comuns em apreensões de tráfico.

Uns dos principais documentos sobre o tema já publicado no Brasil é o Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, lançado pela RENCTAS, em 2002. O relatório aponta que 60% dos animais comercializados ilegalmente são para consumo interno, o chamado tráfico doméstico. Os outros 40% dos animais retirados da fauna brasileira seguem para destinos internacionais. Os autores do relatório estimaram que todos os tipos de exploração ilegal seriam responsáveis pela retirada de 38 milhões de animais da natureza brasileira, número que não inclui peixes ou insetos.

Comércio ilegal em Minas Gerais

Em Minas Gerais, mais de 1.500 espécimes foram resgatados em 2016.  A prática é crime sujeito a multa, que pode chegar a quase R$ 9 mil por espécime, e até prisão. A Diretoria de Fiscalização dos Recursos Faunísticos e Pesqueiros da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) realiza constantes atividades de proteção da fauna e flora no Estado. Somente no ano passado foram 1.563 espécimes apreendidas em 18 operações, com aplicação de R$ 2.207.825,98 em multas. O trabalho é feito com a atuação conjunta da Diretoria de Meio Ambiente da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais e demais instituições do Sistema Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais (Sisema).

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A ambientalista Eduardo Bazem

De acordo com o ambientalista Eduardo Bazem, presidente da AMA – Associação dos Amigos do Meio Ambiente, as principais rotas do tráfico de animais são as regiões que fazem fronteira com outros Estados, como o Triângulo Mineiro, o Nordeste, a Zona da Mata e o Noroeste. As espécies de mamíferos mais apreendidas em Minas são: gambás (30,8%); sagüis-de-tufo-branco (15,7%), capivaras (12,8%) e tatus (10,1%).

O presidente da AMA afirma que entre as aves, o canário-da-terra representa 35,3% das espécies apreendidas no Estado, seguida pelas aves do gênero Sporophila e pelo trinca-ferro, com 22,5 e 15,3%, respectivamente. Os répteis mais cobiçados pelo tráfico são o jabuti-piranga (63%), seguido pela cascavel (14,5%) e jararaca (7,7%).

Eduardo Bazem salienta que o Leste de Minas é muito privilegiado em matas e conserva diversas áreas representativas da abundante Mata Atlântica. Ele atenta para o fato de Manhuaçu estar entre os 13 pontos detectados em Minas Gerais acera do tráfico de animais silvestres. “O fato de nossa região ser rica em fauna e flora atrai a cobiça de pessoas que insistem em “ganhar” a vida danificando nossa biodiversidade. Nós, cidadãos comuns precisamos estar atentos e denunciar o fato, pois só o trabalho da Polícia Ambiental não basta porque a região de cobertura deles é imensa”, finaliza.

Danilo Alves – Tribuna do Leste

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