Crime passional: quem ama mata?
Homicídio registrado em Matipó chama a atenção para casos envolvendo crimes motivados por paixão.
Ligar a televisão ou ler um jornal e se deparar com notícias de um namorado, ou esposo ciumento que matou por ter sido traído, ou de um ex-marido que sequestra mulher e filhos, ou de uma amante que inconformada com a rejeição mata a esposa de seu amado, e até mesmo alguma mulher transtornada com seu esposo que chega tarde e costuma deixá-la furiosa com isso o agride ou o mata tornou-se tão comum que chega a ser assustador. Mas, é certo tratar esse assunto com tanta naturalidade? Afinal, quem ama mata? O que é o amor? Quais são suas características? E o que é a paixão? Quais são suas características? Qual é a diferença entre estes dois sentimentos?
A reportagem do Tribuna do Leste conversou com a Delegada de Crime Contra a Mulher da 6ª DRPC/Manhuaçu, Dra. Adline Ribeiro sobre esses casos. Ela explica que crime passional é um homicídio. “Sabe-se que homicídio é fato tipificado como crime no Código Penal brasileiro no qual se descreve uma conduta que não deve ser praticada; a conduta de matar uma pessoa. Ocorre que, no caso de homicídio passional, que é o homicídio cometido por paixão, existe uma particularidade, pois há uma vinculação afetiva, sexual ou não, entre as partes e o sentimento forte e dominador conhecido como ‘paixão’, na verdade uma paixão doentia”, relata.
De acordo com ela, existem duas características fundamentais para que seja identificado o homicídio passional, que são: a relação afetiva entre as partes, que pode ser sexual ou não, e a forte emoção (entendida como paixão) que vincula os indivíduos envolvidos neste relacionamento. “Cabe ressaltar, que não se caracteriza como crime passional somente quando o homem mata uma mulher, mas também o inverso. Na verdade, é uma espécie de amor bandido em que um é apenas objeto de prazer do outro, e quando se perde o prazer, a fúria e a cólera prevalece sobre a razão humana, por isso, na maioria dos casos é comum o emprego de violência em excesso, como foi o caso de Matipó, nesta última semana”, explica Dra. Adline.
Caso Matipó
Rosiane Nunes de Souza Barbosa, 33 anos foi vítima do ciúme doentio do marido que a matou com 24 golpes de faca e depois tentou suicídio.
Por volta de 15 horas, da última segunda-feira, 22/05, a Polícia Militar recebeu uma ligação dando conta que um casal estava brigando dentro de casa, no bairro Boa Esperança, e que gritavam muito.
Quando a PM chegou, encontrou a mulher morta numa poça de sangue. Rosiane, era zeladora numa escola da cidade.
O autor do homicídio, o seu marido – Alex Silva Barbosa, 36 anos – foi socorrido para o hospital. Ele tentou contra a própria vida. Após os primeiros atendimentos em Matipó, foi transferido para Manhuaçu.
A filha do casal, que estava em casa, contou que seu pai tinha muito ciúmes da mãe dela e, antes dos fatos, presenciou o marido agredir a vítima com um tapa no rosto, momento que saiu para procurar ajudar e quando voltou a tragédia já havia acontecido.
De acordo com a PM, durante o atendimento no hospital em Manhuaçu, o autor foi preso em flagrante por homicídio consumado, uma vez que não corria risco de perder a vida.
Segundo a PM, ele admitiu que esfaqueou a esposa por ciúmes e afirmou também que tentou contra sua própria vida, desferindo contra si um golpe de faca no tórax e outro no abdômen.
Embora alguns parentes tenham relatado que autor e vítima vinham brigando constantemente, a Polícia Militar nunca tinha sido acionada.
A polícia também apreendeu os celulares no imóvel para apurar a história de que o companheiro teria descoberto alguma traição.
Como se prevenir dos passionais?
Dra. Adline explica que prevenir um crime passional é difícil. “A primeira medida para se evitar, ou tentar evitar que o crime aconteça é ficar atento ao comportamento do companheiro, ou companheira, se o relacionamento é turbulento cheio de discussões por ciúmes bestas, falta de confiança, procure uma orientação de profissional juntamente com seu companheiro (a) e se mesmo assim as discussões não cessarem e evoluir para agressões físicas, denuncie, procure a polícia, pois se a pessoa se acomodar, com certeza, o fim não nada agradável”, alerta.
Para o psicólogo André Dória, as chances de uma briga ou rompimento acabar em crime passional são maiores quando a paixão é associada a sentimentos possessivos, ciúmes e baixa autoestima. “A tendência em algumas pessoas é que se coloque a pessoa como um objeto complementar, que vai anular aquela falta que acomete a todos nós e quando a pessoa não consegue suprir essa falta, ela parte para ação de eliminar, de acabar com aquele objeto”, explica o psicólogo.
Ele alerta que estes sentimentos podem ou não ser percebidos durante o relacionamento. “É muito comum a gente ouvir depois que o crime acontece de que aquela pessoa era muito tranquila, era acima de qualquer suspeita. A experiência da paixão mexe com o subjetivo de cada um. Então questões que não estão aparentes e afloram durante essa paixão tomando rumos incontroláveis”, completa André Dória.
A melhor solução é fugir do agressor e procurar outra alternativa como, por exemplo, as agências sociais de proteção da família ou conselhos e instituições, com ajuda de profissionais. Mas, enfim, é preciso saber lidar com o inimigo quando se instaura o desejo de matar pelo ciúme dos criminosos passionais.
Jailton Pereira – Tribuna do Leste