I Seminário da saúde mental é realizado em Manhuaçu
Com o slogan “Faz escuro, mas eu canto, liberdade em todo o canto”, os assistidos do Centro de Atenção Psicossocial CAPS II, CAPS AD e CAPSi e funcionários participaram do 1º seminário da saúde mental de Manhuaçu, que aconteceu na terça-feira, 16, com várias atividades alusivas ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrado na quinta-feira, 18. A data é sempre momento de reflexão sobre o que aconteceu no passado, que, por muito tempo pessoas que sofriam de tormentos psíquicos eram excluídas totalmente da sociedade, obrigadas a viver em regimes de clausura em manicômios e tratadas por terapia quase unicamente medicamentosa.
A Semana de Luta Antimanicomial, comemorada nacionalmente no dia 18 de maio, lembra a mudança de paradigmas no tratamento dispensado a esses cidadãos. De loucos e perigosos, essas pessoas passaram a contar no Serviço Público com uma política, que objetiva maior humanização no acolhimento, tratamento e acompanhamento dos seus problemas. Por isso, coordenação geral dos CAPS II, CAPS AD e CAPSi preparou o evento, que contou com a presença de estudantes de psicologia, enfermagem, familiares dos assistidos e convidados, a fim de despertar a sociedade de que ninguém é diferente, e sim, olhados como iguais.
Em Manhuaçu, o trabalho de saúde mental teve início em 1998 com noventa internações por ano e hoje o CAPS II tem um número reduzido de internações de pacientes por ano.
Somente quem já passou por situações complicadas, sabe o que é guardar na lembrança o passado vivido. Paulo Afonso Dutra, com quadro estabilizado conta que conhece manicômio como ninguém. Em 2007, Paulo Afonso ficou 166 dias num hospital psiquiátrico e sobreviveu por sorte. Ele conta que, durante todo o tempo foi maltratado, sofreu violência física e assistiu pessoas portadoras de transtorno mental sendo mortas. Do tempo passado de internação em manicômio para o que é agora, há uma diferença grandiosa. “Infeliz da família que deixa o parente ser levado para um manicômio. Agora existe dignidade e convivência familiar. Aqui no CAPS, todos os profissionais sabem tratar o paciente com respeitabilidade”, ressalta Paulo Afonso Dutra.
O coordenador geral dos CAPS, Dimitri Xavier Borges explica que o seminário foi para dar visibilidade ao paciente, que ainda é visto como diferente e sofre preconceito. Devido ao acompanhamento, os pacientes ensinam para todos que a convivência pode ser de forma harmoniosa, sem diversidade. “Ainda existe muito preconceito por parte da sociedade e da família, que quer se livrar do paciente. O trabalho em conjunto ajuda a fortalecer e alcançar o objetivo da saúde mental”, ressalta Dimitri Xavier.
A secretária municipal de saúde, Karina Gama diz que o trabalho é feito de forma objetiva na área da saúde mental, que é referência regional. “Nosso objetivo é que os pacientes sejam bem atendidos, e o índice de internação reduza cada vez mais. Investimentos sempre serão feitos”, explica Karina Gama. Para o coordenador regional dos CAPS da Gerência Regional de Saúde, (GRS Manhumirim), Marcos Moreira que acompanha o trabalho nos 34 municípios, a discussão é sempre salutar. Ele ressalta que a saúde mental no município de Manhuaçu é referência em todos os aspectos, e o serviço é direcionado de forma objetiva. “Infelizmente, a família do paciente tem muita resistência ainda, e acaba até dificultando as ações. Avançamos muito, mas precisamos caminhar mais, principalmente olharmos o diferente como igual”, considera o coordenador regional.
A propulsora da saúde mental em Manhuaçu foi a psicóloga Lia Breder, que, em 1998 percebeu que os pacientes eram encaminhados para Leopoldina e Barbacena. Instituiu o serviço e um ano depois apenas 12 pacientes foram internados. Ao falar do tema da palestra “Loucos Manhuaçuenses”, ela avalia que os familiares e o município entenderam que o lugar deles é bem perto. “Há 19 anos criamos o serviço. Agora, a gente vê essa grande mudança”, relembra a psicóloga emocionada.
Eduardo Satil – Tribuna do Leste