Abuso infanto-juvenil: pais devem estar atentos às atividades de seus filhos
A violência contra crianças e adolescentes é uma realidade dolorosa, responsável por altas taxas de mortalidade e de morbidade nessa faixa etária. Isso exige uma resposta séria e urgente da sociedade. Os Serviços de Saúde não podem deixar de enfrentar, ao lado de outros setores governamentais e não-governamentais, esse grave problema, que hoje faz parte da agenda de Saúde Pública de vários países. As experiências vividas na infância e na adolescência, positivas ou desfavoráveis, refletem-se na personalidade adulta. As dificuldades inevitáveis se tornam mais brandas quando enfrentadas com afeto e solidariedade. A violência gera sentimentos como o desamparo, o medo, a culpa ou a raiva, que, não podendo ser manifestados, se transformam em comportamentos distorcidos, perpetuando-se por gerações seguidas. Lamentavelmente, cresce o número de crianças e adolescentes que chegam à rede pública de saúde e às clínicas particulares, vítimas de um crime hediondo como o abuso infantil.
Após muitos anos ignorando o grave problema social do abuso sexual infantil, a sociedade alcançou hoje uma maior conscientização sobre a urgência em enfrentar este problema. Para tanto, técnicas de proteção a crianças vítimas de violência sexual vêm sendo desenvolvidas e a consciência dos Direitos Humanos corrobora para o enfrentamento deste drama. Faz-se necessário, portanto, o conhecimento, por parte dos operadores do direito, de conceitos e técnicas básicas sobre abuso sexual.
A realização dos procedimentos jurídicos nestas situações será mais eficiente e menos danosa às pequenas vítimas, se houver um preparo por parte destes profissionais, evitando, assim, a revitimização (fenômeno decorrente do sofrimento continuado ou repetido da vítima de um ato violento, após o encerramento deste, que pode ocorrer), conforme o advogado e presidente da Comissão dos Direitos da Criança e Adolescente da OAB Manhuaçu, Wagner Alves Caldeira.
Ele acrescenta que na maioria das violências sexuais infantis praticadas, o agressor faz parte do círculo de convivência da criança ou do adolescente. O agressor, normalmente, tem algum grau de parentesco com a vítima (pai, padrasto, tio, avô ou padrinho). É alguém carinhoso e que conquista a confiança de toda a família. Geralmente, os abusadores são muito queridos, querem conquistar os pais e a criança. A aproximação começa com um carinho. Depois, ele observa como a criança reage e às vezes começa guardando um segredinho com a criança. Além desses requintes, ele também conta com o recurso da ameaça – explica o presidente da Comissão dos Direitos da Criança e Adolescente. “Para manter o silêncio da vítima, o abusador pode fazer ameaças de violência física e promover chantagens ao afirmar que pode ferir a própria criança ou adolescente, ou até mesmo um parente que o abusado possui um alto grau de estima”, afirma.
Abalo emocional
Entre as reações mais comuns de quem estão a culpa que a criança carrega por ter participado da vivência abusiva e o medo das consequências da revelação dentro de sua família. Temem o castigo, o descrédito e a não proteção, mantendo, assim, a omissão dos fatos de forma consciente. A crença de que são, de alguma maneira, responsáveis pelo ato vivido, intimida as crianças a não revelarem o que estão ou estavam sofrendo.
São vários os indicadores de abuso sexual que podem levar a suspeita de que uma criança esteja sendo abusada ou negligenciada. Estes indicadores servem como sinais de alerta na busca de ajuda profissional e legal. Assim, além da revelação verbal do abuso, ainda existem inúmeras outras pistas que auxiliam na identificação da violência sexual infantil e podem levar a sua constatação. Os sinais podem ser físicos, ou mesmo comportamentais. “É importante estar atento às mudanças de comportamento ou humor, pois, na maioria das vezes, as crianças expressam a violência sofrida através das mudanças de comportamento”, enfatiza Wagner Alves Caldeira.
O primeiro sinal a ser observado é uma possível mudança no padrão de comportamento das crianças. Segundo Wagner Caldeira, esse é um fator facilmente perceptível, pois costuma ocorrer de maneira repentina e brusca. “Por exemplo, se a criança nunca agiu de determinada forma e, de repente, passa a agir. Se começa a apresentar medos que não tinha antes – do escuro, de ficar sozinha ou perto de determinadas pessoas. Ou então mudanças extremas no humor: a criança era superextrovertida e passa a ser muito introvertida. Era supercalma e passa a ser agressiva”, enfatizou.
Em outros casos, a rejeição não se dá em relação a uma pessoa específica, mas a uma atividade. A criança não quer ir a uma atividade extracurricular, visitar um parente ou vizinho ou mesmo voltar para casa depois da escola. Uma criança vítima de abuso também apresenta alterações de hábito repentinas. Pode ser desde uma mudança na escola, como falta de concentração ou uma recusa a participar de atividades, até mudanças na alimentação e no modo de se vestir.
Acompanhamento dos filhos
A violência sexual contra criança é mais comum do que se imagina. Está acima de classe social ou nível de instrução. Por isso, se faz necessário que os pais ou responsáveis realizem o monitoramento de seus filhos durante todo o ano, a começar pela escola. “É preciso que os pais se informem e, junto com a escola, estabeleçam uma parceria no sentido de ampliar o conhecimento e, consequentemente, a proteção dessas crianças”, orienta o advogado.
O monitoramento das atividades dos filhos, em especial os adolescentes, também é essencial para se evitar uma tragédia. As conversas sobre as companhias e os lugares a que os jovens frequentam também devem fazer parte dos diálogos das famílias. “Hoje, a gente vê jovens em bares, nas ruas, fazendo uso de bebidas alcoólicas e outras drogas. Temos uma Portaria da Vara da Infância e da Juventude que delimita os horários dessas pessoas nas ruas. Mas creio que não precisaria de uma fiscalização tão grande por parte das autoridades se houvesse, por parte dos pais ou responsáveis, um certo rigor em não permitir que seus estejam nas ruas em horários inadequados para a idade”.
Danilo Alves – Tribuna do Leste