Taxista: ação criminosa preocupa a categoria
As cidades da região do Caparaó vêm sofrendo com sucessivas ondas de violências nas últimas semanas. As constantes mortes que ocorreram deixaram uma interrogação na sociedade que a cada dia fica mais apavorada com um cenário que, há alguns anos, não era imaginado, retratado como lugares tranquilos e pacíficos. Não entrando no mérito de crimes ocorridos em anos anteriores, podemos elaborar uma pequena linha do tempo a partir do assalto em Santa Margarida, que terminou com a morte o Policial Militar, Cabo Marcos Marques e do vigilante Leonardo Mendes, precedido pela “madrasta” que assassinou cruelmente a enteada de apenas um ano e meio, no bairro Coqueiro e culminando na morte do taxista Márcio Vieira Amorim, de 57 anos, morador de Santana do Manhuaçu, que estava desaparecido desde o dia 22/07.
O corpo do taxista foi encontrado enterrado em uma vala em uma lavoura de café. Ao que tudo indica, ele foi morto a pauladas, e suas mãos e pés estavam amarrados. O carro do taxista, um Fiat Pálio, de cor vermelha, com placas de Santana do Manhuaçu, foi localizado durante a manhã de segunda-feira 24/07, por funcionários da fazenda Barbosa, situada às margens da MG-329, estrada que liga Caratinga a Bom Jesus do Galho, no Córrego da Varginha.
Márcio Vieira entra para o catálogo de vítimas da violência praticada na região, que acomete as pessoas de bem e deixa a sociedade refém do medo. Como exemplo pode-se pegar o comentário do colega de profissão de Márcio, o taxista José de Souza, que atua em Santana do Manhuaçu há mais de 25 anos e classifica o ocorrido como covardia. “Era uma pessoa honesta e trabalhadora e muito dedicado ao seu serviço, o que fizeram com ele foi uma covardia sem tamanho”. O medo a que o texto se refere no início deste paragrafo está contido nas palavras de José de Souza, que complementa “Dá muito medo de continuar trabalhando. É muita crueldade. Hoje, você sai para trabalhar e não sabe se volta vivo para a sua família. Igual o Márcio, saiu para trabalhar e voltou morto”, desabafa.
Segundo o Comandante do 2º Pelotão de Polícia Militar de Simonésia, Tenente Flávio Antunes da Silva, “desde que saiu as informações do desaparecimento do taxista, a Polícia Militar iniciou um intenso rastreamento no levantamento de informações que nos levassem até o paradeiro do taxista”. Diligências foram iniciadas com ligações para as Polícias Militar de Caratinga e Ipanema, com o fornecimento de detalhes para toda a região. E através da troca de informações os militares souberam que o táxi estava rodando pela cidade de Caratinga. Após o aumento das diligências em Caratinga o táxi foi localizado, mas sem o motorista.
As atuações ostensivas realizadas pela Polícia Militar chegaram a André Santos Félix, acusado do assassinato. Em um primeiro momento, André Santos negou a participação no crime, mas após um tempo de conversas com os militares ele acabou confessando o crime. André disse que solicitou os serviços do táxi em Santana do Manhuaçu e, logo após, feito a locação do veículo, assassinou o taxista com golpes de pauladas e enterrou o corpo no córrego Cabeceira do Santana. André foi quem levou os policiais até o local onde o corpo foi enterrado.
O caso ganhou contornos mais surreais quando o irmão de André Santos – um garoto de 14 anos, procurou o quartel da Polícia Militar de Ipanema, na terça-feira, 25/07, e disse que no sábado por volta das 20h, juntamente com o irmão André Feliz foram até a praça de Santana do Manhuaçu e fretaram um táxi para levá-los até a casa da mãe, que reside na zona rural do município. Chegando próximo a uma porteira na fazenda do “Zé Duzinho”, André estava com um canivete na mão e disse ao taxista que era um assalto. Contou que ajudou o irmão a amarrar as mãos do taxista e a jogá-lo em um buraco. Em seguida, André Felix jogou um “toco de eucalipto grosso” na cabeça da vítima, cobriu o buraco com terra e galhos de café. Depois saíram e foram à casa da mãe, onde estava a mulher de André Santos Felix, fatos que contradizem a versão de André sobre a morte do taxista Márcio.
No dia 21/07, os irmãos foram para a zona rural de Caratinga, onde reside sua irmã, juntamente com a cunhada e colocaram fogo em alguns papéis que estavam no porta malas do carro pertencente à vítima. Depois, o irmão de André Santos foi para casa de um amigo, em Caratinga. O adolescente, após passar as informações para a polícia, foi liberado devido não haver nenhum Mandado de Apreensão em seu desfavor.
Profissão taxista: a última viagem
Depois do assassinato do taxista Márcio Vieira Amorim, de 57 anos, que trabalhava na cidade de Santana do Manhuaçu, e a confissão do suspeito André Santos Felix e o adolescente de 14 anos, reascende a discussão a respeito da atividade. Uma profissão exposta ao perigo, de pouca renda, mas cheia de aventuras e amizades. Porém, ao embarcar um desconhecido dentro do carro e se dirigir para locais ermos, ruas escuras e sem movimentos se torna um risco iminente.
Todas essas circunstâncias fazem com o que o medo de assaltos, seja constante na vida dos taxistas que não conseguem distinguir o passageiro bom e o passageiro ruim. Alguns profissionais são sabedores do risco, mas também avaliam o lado positivo, que são as amizades constituídas durante uma viagem.
Para o presidente do Sindicato dos Permissionários de Táxi e Motoristas Auxiliares de Manhuaçu e Região (SINTÁXI), Nilton Carlos Dornelas, a violência contra o “profissional de praça” tem trazido bastante preocupação, devido a vulnerabilidade que fica a todo o momento. Todos os dias, a profissão reserva alguns segredos que nem mesmo aqueles mais atentos conseguem desvendar, porque o foco é satisfazer a clientela, não ter opção de escolha e muito menos a de exigir identificação e observar se está portando qualquer tipo de objeto, que sirva para cometer as mais variadas violências.
Nilton Carlos ressalta que, ao sair para mais uma corrida, o profissional joga com a sorte durante o trajeto. Por outro lado, é gratificante porque o resultado é o surgimento de laços de amizade. Ao ser indagado sobre a sensação do medo e da insegurança no dia a dia, Nilton Carlos Dornelas explica que sente a necessidade de buscar alternativas, que transmitam segurança aos profissionais. Segundo ele, o sindicato estará viabilizando uma reunião com a Polícia Militar, para que os taxistas possam receber algumas dicas de segurança, além de pedir um suporte principalmente o de identificar passageiros. “Precisamos ter tranquilidade para prestarmos um bom serviço à coletividade. O taxista precisa sentir mais seguro na tarefa diária, e nunca sair com aquela sensação de que seja a sua última viagem”, destaca o presidente do SINTAXI.
Eduardo Satil / Danilo Alves – Tribuna do Leste
Fotos: Jailton Pereira