Campanha alerta para diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil

“Setembro Dourado” visa estimular ações preventivas e educativas associadas à doença
O câncer é a segunda maior causa de morte de crianças e adolescentes no país, atrás apenas de acidentes e violência. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), todos os anos 12 mil crianças e jovens são diagnosticados com a doença no Brasil, dos quais 70% dos pacientes possuem chance de cura se diagnosticados precocemente. Neste mês de setembro, com a meta de diminuir as estatísticas, a Confederação Nacional das Instituições de Apoio e Assistência à Criança e ao Adolescente com Câncer (CONIACC) celebra o “Setembro Dourado”, que visa estimular ações preventivas e educativas associadas à doença, promover debates e outros eventos sobre as políticas públicas de atenção integral às crianças com câncer. O amarelo tem função de demonstrar um sinal de alerta para a necessidade de atitudes que levem ao diagnóstico precoce. Já a cor dourada simboliza o “padrão ouro”, que necessitam as crianças e adolescentes que sofrem da doença.
Em entrevista ao jornal Tribuna do Leste, a Dra. Melissa Macedo, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), explica que o câncer infantojuvenil corresponde a um grupo de várias doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo. De acordo com a médica, as leucemias agudas (que afetam os glóbulos brancos) representam o maior percentual de incidência (30%) nessa faixa etária, seguida dos linfomas (14%) e tumores do sistema nervoso central (13%), que incluem os tumores cerebrais.
Ouça a entrevista com a médica oncologista Dra. Melissa Macedo, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE):
Não existe um método preventivo específico para o câncer em crianças e jovens, mas é de extrema importância que os pais ou responsáveis levem seus filhos a consultas periódicas com o pediatra, que é um profissional capaz de identificar possíveis alterações no organismo das crianças quanto a doença e encaminhar para o oncologista pediátrico. “Febres, manchas roxas sem explicação, dores nos membros inferiores, cansaço e apatia sem explicação, aparecimentos de “ínguas” em alguns locais, são alguns indicadores de tumores em crianças. Tudo isso faz parte de outras doenças benignas na infância, mas se esses sintomas vão crescendo, piorando e não são resolvidos, significa que algo está errado. Outra situação que gostaria de chamar a atenção é em relação a criança acordar no meio da noite com alguma dor ou vomitando repetidamente, isso pode significar sintomas de gravidade da doença”, pontua especialista.
Nas crianças e adolescentes, o crescimento anormal de células cancerígenas ocorre diferente dos adultos, as mutações são espontâneas e não decorrentes de ações ambientais. Portanto, não existe associação com tabagismo, etilismo, hábitos de vida irregulares, como ocorrem em adultos. “A maioria dos cânceres infantis são causados por mutações nas células. A criança não recebe o gene da doença pelo pai ou a mãe. A célula desenvolve uma operação dentro do próprio núcleo e forma-se a célula cancerosa, que vai sendo dividida indefinidamente. Raros algumas exceções, como o câncer de olho, são espontâneas, ou seja, se dão através de mutações, diferente dos adultos”.
Tratamento
Segundo a Dra. Melissa Macedo, o câncer em adultos geralmente cresce devagar, diferente das crianças que têm uma taxa de multiplicação muito acelerada. E tudo que cresce rapidamente responde muito bem a quimioterapia, que constitui o principal pilar no tratamento oncológico pediátrico, principalmente em altas doses”, esclarece. A médica salienta que os tratamentos dos adultos consistem – na maioria dos casos de cirurgia, radioterapia e hoje – de forma mais moderna, anticorpos monoclonais (remédios que atuam exclusivamente na célula do determinado tipo de câncer), mas a maioria dos cânceres infantis são curados com quimioterapia. Em uma menor parcela é necessária a realização de cirurgia, e em uma escala menor ainda, a radioterapia.
A médica esclarece que atualmente no Brasil a maioria dos centros de excelência em tratamento na oncologia pediátrica são do Sistema Único de Saúde (SUS). “Geralmente, os hospitais escolas que possuem serviços de oncologia pediátrica são muito bem equipados e preparados para tratar a patologia. Eles usam protocolos mundiais, em relação a oncologia pediátrica”. Dra. Melissa Macedo destaca que os serviços ofertados pelo SUS têm quase a mesma quantidade de diagnóstico e de armas terapêuticas do que os hospitais particulares. “Claro que não estamos falando de serviços de hotelaria, mas de tratamento que é realmente o que interessa. O problema é que o Brasil é um país de dimensões continentais e o tratamento que a criança recebe no Sul e Sudeste não é o mesmo do Norte e Nordeste. E um dos objetivos da Campanha “Setembro Dourado” é justamente fortalecer as taxas de cura, que se encontram entre 70 e 80%. Atualmente, ela gira em torno de 50% de país devido as dificuldades no acesso, desde o atendimento básico até o tratamento especializado do câncer, em algumas localidades do Brasil”, finaliza.
Sentindo na pele
Cleidiane dos Reis de Oliveira, 27 anos, é mãe do jovem Patrick, 12 anos, diagnosticado com leucemia, em junho de 2016. As primeiras alterações foram percebidas na escola, Patrick sempre foi uma criança ativa e comunicativa e nos dias que precederam o diagnóstico da doença, ele teve uma queda considerável no rendimento escolar. “O Júlio Caetano, diretor da escola me chamou e juntamente com a professora e a supervisora me aconselharam a levar o Patrick ao médico, pois ele apresentava se muito sonolento, desanimado e desatencioso, um comportamento atípico, diferente do que ele era na escola”, relata.
Após passar pelo PSF da comunidade, Patrick foi encaminhado para Manhuaçu, onde os exames de sangue acusaram sérias alterações nos resultados e constatou-se um quadro de leucemia. “Ficamos absolutamente passados, nossa visão de leucemia é ligada à morte, de câncer devastador, que deveríamos fazer? Toda nossa vida é repassada em segundos, sem ter tempo de pensar racionalmente em nada, pois é difícil pensar em outra coisa nessa hora” disse Cleidiane.
De imediato, Patrick foi encaminhado para a Fundação Cristiano Varella em Muriaé, onde começou o tratamento. “A ajuda e o apoio que tivemos no início do tratamento foi fundamental para a recuperação do Patrick e superar aquele momento tão difícil. Primeiramente entregamos a Deus, pois para Ele nada é impossível e tem sido a nossa sustentação desde o começo de nossas vidas”, frisa a mãe.
Patrick ficou internado em Muriaé para o tratamento inicial e recebeu uma surpresa de aniversário. No ano passado, alunos da sala de aula do adolescente fizeram uma visita surpresa para o amigo na Fundação Cristiano Varella. A visita foi organizada pela direção da escola, juntamente com Polícia Militar, através dos instrutores do PROERD. “Ele nunca teve uma festa de aniversário e aquele momento que a escola e a Polícia Militar nos proporcionaram foi maravilhoso, nos deram forças para continuar e estamos vencendo a batalha”, comemora Cleidiane.
Patrick está em tratamento, apesar das restrições médicas e o uso contínuo de medicamentos, ele tem uma vida normal. “Louvamos a Deus todos os dias pela recuperação do meu filho, os médicos disseram que a evolução dele é surpreendente. Hoje ele brinca com os amigos, faz estripulias até demais, não tem como vigiá-lo o tempo todo. Continuamos o tratamento, que segundo os médicos, deve ser seguido até 2018, mas estamos muito felizes e agradecidos com a recuperação dele”, completa.
Para o pequeno Patrick a primeira impressão era negativa. “A princípio eu pensei que ia morrer, mas logo que comecei o tratamento, recebi a visita dos meus colegas e fiquei muito feliz, pois nem esperava deles me visitarem”, conta Patrick.
Ele deixa uma mensagem para as crianças que são acometidas pela doença. “A mãe fica muito assustada quando o filho dela tem essa doença achando que não tem cura, mas Deus manda uma cura para a criança”, finaliza.
Além de Patrick, o casal Cleidiane e Ailton tem outros três filhos, Marcos, Guilherme e Mariana.
Danilo Alves / Jailton Pereira – Tribuna do Leste