Setembro Amarelo: campanha busca conscientizar população e promover a vida

Assim como os meses de novembro e agosto, dedicados à realização de campanhas educativas e de conscientização ligadas à saúde, setembro é o mês em que a sociedade volta seu olhar para um problema em escala mundial, o suicídio. Através da campanha Setembro Amarelo capitaneado pela Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP). Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase um milhão de pessoas morrem por suicídio anualmente, o equivalente a uma morte a cada 40 segundos.
No Brasil, de acordo com os números do Sistema de Informações de Mortalidade( SIM) do Ministério da Saúde, ocorrem, em média, 32 mortes por suicídio/dia. Visando contribuir para a redução desses números alarmantes, a campanha Setembro Amarelo busca conscientizar a população acerca da importância da identificação e tratamento corretos das doenças mentais, o que traria um impacto direto na redução das mortes por suicídio.
Sinais no cotidiano podem mostrar à família que a pessoa planeja ou pensa na possiblidade de suicídio. A maioria das pessoas com ideias de morte comunica seus pensamentos e intenções suicidas. Elas, frequentemente, dão sinais e fazem comentários sobre “querer morrer”, “sentimento de não valer para nada”, e assim por diante. A psicóloga de Manhuaçu, Tamires Formaggine, alerta que comportamentos considerados como de despedida podem ser percebidos antes da tentativa de suicídio, por isso é importante a participação da família para que seja detectado o caso em tempo hábil. “O papel da família é muito importante porque são aqueles que estão próximos à pessoa que, por algum motivo, apresenta essas ideias, ou um desânimo de viver, de não querer fazer as coisas. Então, é fundamental que a família perceba a motivação da pessoa, o ritmo para trabalho, relações, as frases que ela fala diante de dificuldades, quais são as angústias que essa pessoa está sentindo, perceber se há uma tristeza aparente. Muitas vezes a pessoa pode apresentar sintomas, outras vezes, pode ser uma coisa silenciosa. O suicídio é um assunto muito velado, e quando ele acontece, às vezes não é divulgado como o real motivo da morte. Por isso, a campanha vem com muita força, pois falar é a melhor solução. Às vezes a pessoa não demonstra, e você percebe que ela está em uma vida normal, mas, no entanto, internamente, apresenta uma angústia grande”, enfatiza.
A psicóloga explica que alguns sinais apresentados pela pessoa podem refletir no sentimento em que ela se encontra diante da doença, sintomas de baixa autoestima, dificuldade de manter atividades de rotina, a própria tendência depressiva, e a falta de esperança podem indicar um alerta de que algo não está bem com determinada pessoa. “Sinais no cotidiano podem mostrar à família que a pessoa planeja ou pensa na possibilidade de suicídio. A maioria das pessoas com ideias de morte comunica seus pensamentos e intenções suicidas. Elas, frequentemente, dão sinais e fazem comentários sobre “querer morrer”, “sentimento de não valer para nada”, e assim por diante. Tamires Formaggine alerta que comportamentos considerados como de despedida podem ser percebidos antes da tentativa de suicídio. “De repente a pessoa começa a se desfazer de coisas, dizer que não vai fazer mais certas atividades. Sinais que a pessoa está encerrando sua agenda, por exemplo. Em geral este tipo de comportamento é considerado de alto risco. Independentemente de a pessoa estar deprimida ou ter um histórico de transtorno mental”, elucida.
Ouça a entrevista com a psicóloga Tamires Formaggine:
Tabu
A psicóloga afirma que as pessoas devem deixar de banalizar algumas situações. “Dizem que ‘quem diz que vai se matar não se mata’. Esta não é a realidade. A pessoa às vezes está sinalizando que há algo acontecendo dentro dela e os que estão do lado de fora não estão preparados para ouvir e acham que é bobagem, besteira. Nossa sociedade não dá valor a esses sintomas da depressão, fecha os olhos e isto vira bola de neve. Existe um mito grande de que quanto mais falarmos de suicídio nós estamos incentivando as pessoas, e na verdade o que acontece é o contrário. Quanto mais o assunto é explorado abre-se um espaço para que as pessoas comentem a respeito do problema delas. E quando omitimos esse assunto estamos, de certa forma, negando ajuda a essas pessoas. É necessário que a sociedade e a família conversem mais sobre o assunto, visto que quando alguém de um determinado ambiente familiar já retirou a própria vida, há uma propensão maior de outro membro do mesmo parentesco também cometer o ato. Então, é importante quebrar esse tabu e falar mais a respeito do suicídio”.
Como identificar
Há que se perceber que o suicídio é um fenômeno que não é exclusivamente do indivíduo – não é “culpa” dele ou de ninguém em específico; há um emaranhado de relações de forças que influenciam na chegada à possibilidade do ato, diversos processos de determinação que poderão conduzir um estado de fragilidade que levará a esta decisão. Questões familiares, de renda, afetivas, biológicas, sociais, mentais, diversos fatores têm de ser averiguados para se ter uma percepção do que leva alguém ao suicídio.
Mas existem pistas, indícios e também precisam de contextualização, dessa vez na história individual, conforme explica Tamires Formaggine. “A pessoa mudará seus hábitos, ficará introspectiva ou impulsiva, ficará angustiada, a fala se mostrará apática e sem esperança – mais pessimista, ela começa a falar mais sobre morte e tragédias, ocorre um aumento do uso de álcool, remédios e drogas, ela é acometida por insônia, falta de apetite, stress muito alto, e começa a se automutilar. O que quer que seja, ficará notório por uma destrutividade da pessoa para consigo própria e de suas relações: daí os comportamentos e verbalizações agressivos. Mas, o que tem de ficar claro é que esse é justamente o modo do indivíduo pedir ajuda: portanto, ouça, acolha e incentive a procura de um acompanhamento multiprofissional”.
Um pedido de ajuda
A pessoa que tenta o suicídio tem um comportamento ambivalente, ela quer morrer, mas ao mesmo tempo não quer. Na verdade, ela passa por um sofrimento intenso, físico ou psicológico, e quem pensa em atentar contra a vida quer sair do estado de dor. O comportamento suicida é um pedido de ajuda, é a pessoa dizendo: eu não consigo lidar com isso sozinho, por isso, a empatia é uma das principais características que as pessoas devem ter para ajudar outros entes a lidar com essa doença avassaladora. “Deve-se evitar ir moralmente contra, dizendo que a pessoa deve viver e coisas do tipo. Ela quer viver; mas já não sabe como e não suporta. E tentar “enfiar” isso em sua cabeça será pior. Procure se aproximar de seu sentimento, demonstre compreender seus motivos e que consegue pôr-se em seu lugar. Apenas isso, muitas vezes já faz a pessoa se abrir e repensar “nossa, alguém entende e não julga meus atos”. Mas veja, isso é radicalmente diferente de incentivar ou a falada “psicologia reversa”; o que a pessoa deseja é estabelecer vínculos e viver bem”.
Tratamento
A proximidade de alguém que decidia dar fim à vida deixará todos perplexos e perguntando se nada poderiam ter feito para evitar este gesto. A maior parte das pessoas que pensa em cometer suicídio enfrenta uma doença mental que altera, de forma radical, a percepção da realidade e interfere no livre arbítrio. Assim sendo o tratamento da doença é a melhor forma de prevenir. “Quem convive com essas pessoas, como colegas de trabalho, parentes e amigos, são os que mais podem perceber os sinais de que alguém pensa em desistir da própria vida. A pessoa mudou o comportamento, ficou mais triste, mais desanimado, passou a faltar o trabalho, não rende do mesmo jeito. São vários os indícios de reações depressivas ou quadros depressivos de maior severidade, que podem levar ao suicídio. Quem perceber esses sinais dê atenção, se disponha a ouvir e sugerir acompanhamento especializado, caso necessário. Não devemos fechar os olhos mais contribuir de alguma maneira, pois sempre existirá uma forma de amparar essas pessoas”, finaliza a psicóloga Tamires Formaggine.
Danilo Alves – Tribuna do Leste