ColunistasDestaqueDr. Carlos Roberto Souza

Segurança Pública e Cidadania: A Saúde Mental dos Profissionais de Segurança, Uma Crise Silenciosa

Por trás do uniforme e da coragem que mantêm nossa sociedade em ordem, existe uma realidade dura e pouco discutida: a saúde mental dos profissionais de segurança está em colapso. Policiais civis, militares, bombeiros e agentes penitenciários enfrentam diariamente situações de extremo estresse, violência e pressão, mas muitas vezes são deixados à própria sorte quando o peso desse trabalho começa a corroer seu equilíbrio emocional. O resultado é alarmante: um número crescente de profissionais desenvolvendo depressão, ansiedade, síndrome de burnout e, nos casos mais extremos, tirando a própria vida.

A natureza do trabalho desses profissionais os expõe a traumas constantes. Eles lidam com cenas de crimes, atendem a vítimas de violência, enfrentam criminosos armados e ainda precisam manter a compostura em situações que deixariam qualquer pessoa devastada. No entanto, quando precisam de apoio, muitos se deparam com a falta de estrutura adequada. O Estado, que deveria garantir assistência psicológica especializada, frequentemente falha em oferecer programas eficazes de acompanhamento. Muitos sequer têm acesso a terapias ou grupos de apoio, e o estigma em torno da saúde mental ainda faz com que muitos sofram em silêncio, com medo de serem vistos como “fracos” ou “incapazes”.

Além da carga emocional do trabalho, há também a pressão institucional. Jornadas exaustivas, salários defasados, falta de reconhecimento e a constante sensação de que a sociedade os critica mais do que os valoriza contribuem para um ambiente desgastante. Para as mulheres na segurança pública, o cenário é ainda mais complexo, com desafios adicionais como assédio e dupla jornada. Não é surpresa que muitos acabem adoecendo, afastando-se do serviço ou, na pior das hipóteses, enxergando no suicídio a única saída para o sofrimento.

Precisamos urgentemente falar sobre isso. Não basta homenagear os profissionais de segurança em datas simbólicas; é preciso garantir que eles tenham suporte real para lidar com as consequências psicológicas de seu trabalho. Investir em saúde mental não é um favor – é uma obrigação do Estado e uma necessidade para manter vivos aqueles que dedicam suas vidas a proteger a população. Se não agirmos agora, continuaremos a perder homens e mulheres valiosos para uma crise que poderia ser evitada. A segurança pública não pode ser construída sobre o sofrimento silencioso de quem a sustenta.

Carlos Souza – Delegado

 

 

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