O fiscal do Ministério do Trabalho de Manhuaçu Flavio Pena participou recentemente do documentário “Viúvas de Maridos Vivos”, uma produção que aborda a trajetória de trabalhadores rurais migrantes do Norte de Minas e do Nordeste do país que se deslocam para o Sudeste em busca de melhores condições de vida.
Segundo Flávio Pena, o filme mostra a dura realidade de homens que deixam suas famílias nas regiões de origem para trabalhar no corte da cana e na colheita do café em estados como Minas Gerais e São Paulo. “Esses trabalhadores saem com a esperança de melhorar a renda, mas muitos enfrentam situações difíceis. Alguns voltam, outros acabam ficando por aqui. O documentário tenta retratar essa história com fidelidade”, explicou.
As filmagens ocorreram no Vale do Jequitinhonha e contaram com a participação de equipes autorizadas pelo governo federal. O objetivo foi reproduzir a rotina e os desafios enfrentados pelos migrantes que chegam ao Sudeste em períodos de safra. Flávio Pena destaca que esse movimento migratório ocorre em diversas partes do país e está diretamente relacionado à vulnerabilidade social. “Infelizmente, Minas Gerais liderou em 2024 o número de trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão. Muitos são aliciados por intermediários, os chamados gatos, que prometem altos salários. Quando chegam, encontram uma realidade muito diferente: sem registro, alojados em condições precárias e, muitas vezes, sem alimentação adequada”, relatou.
A maioria dos trabalhadores vem de comunidades pobres e quilombolas do Norte de Minas. “Eles são pessoas simples, com pouca informação, e acabam sendo explorados. O que tem ocorrido aqui na nossa região é que esses aliciadores trazem grupos em ônibus clandestinos e os espalham por diversas propriedades rurais, lucrando com essa exploração. Esses trabalhadores ficam sem apoio e extremamente vulneráveis”, acrescentou.
Em Manhuaçu e municípios vizinhos, o período mais crítico é o da colheita do café, quando há maior demanda por mão de obra temporária. Por ser uma região de relevo acidentado e pouca mecanização agrícola, o trabalho manual é indispensável, o que atrai migrantes de diferentes estados. O documentário, segundo Flávio, tem um papel importante de conscientização. “Ele lança luz sobre uma situação que ainda persiste em várias regiões do Brasil. Hoje, felizmente, os trabalhadores estão mais conscientes e têm buscado canais de denúncia. Há também caravanas educativas, como a da UFMG, e projetos do Ministério do Trabalho voltados para a prevenção e o enfrentamento ao trabalho escravo. Mas essa responsabilidade não é apenas do Ministério — é um esforço coletivo que envolve toda a sociedade”, ressaltou.
Danilo Alves – Tribuna do Leste