
Ao celebrarmos a festa da Sagrada Família, o Evangelho de Mateus nos transporta para uma narrativa que vai muito além das imagens idealizadas dos presépios. A reflexão proposta pelo Padre Dirlei Abercio da Rosa nos recorda que, à distância de milênios, percebemos que a figura central daqueles eventos não era o imponente Herodes, mas sim um homem silencioso, concreto e sonhador: José. Como um homem pobre e desarmado, ele se revela mais forte do que qualquer tirano ao permitir que sua família seja guiada não pelo medo, mas por um sonho alimentado pela palavra divina.
O cotidiano sem contos de fadas Diferente do que possamos imaginar, a encarnação de Jesus não ocorreu em uma realidade perfeita ou em um cenário de conto de fadas. Maria, José e o menino Jesus viveram intensamente as angústias de tantas famílias de ontem e de hoje, enfrentando riscos, inseguranças, perseguições e a imposição dos poderosos. O nascimento do Salvador foi marcado pela ausência de quase tudo o que consideramos necessário para o acolhimento de uma criança — não houve conforto, nem ambiente hospitalar digno, mas sim a mais pura e real condição humana. Deus escolheu entrar no mundo através de um casal que vivia uma experiência profunda de amor e doação, inserido em um contexto de extrema simplicidade.
A luz para os próximos passos Um ensinamento valioso que essa história nos deixa é a maneira como Deus se comunica com os seus. Na trajetória de José, o auxílio divino não se manifestava como um mapa completo da estrada, mas como uma luz que iluminava apenas os próximos passos. Para cada novo desafio ou ameaça, surgia uma palavra de orientação, exigindo que a família vivesse um momento de cada vez, ouvindo e cuidando uns dos outros. Essa dinâmica mostra que a força de Deus se manifesta de forma simples, guiando aqueles que, como José, se dispõem a abraçar sua missão mesmo diante das incertezas do caminho.
O Deus que caminha conosco A mensagem central deste Natal que se prolonga é que o Messias é o “Deus conosco” — uma presença real no aqui e agora das nossas próprias famílias. Ele não é um observador distante, mas um companheiro de jornada que nunca nos deixa sozinhos. No entanto, a reflexão cristã nos alerta que, embora Deus caminhe ao nosso lado, Ele não faz por nós aquilo que é nossa responsabilidade. Somos convidados a acolher essa presença divina no seio de nossos lares, agindo com a consciência de que a felicidade familiar também depende do nosso esforço e da nossa disposição em ouvir e sonhar os sonhos de Deus.
Tribuna do Leste



