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Uma renúncia que marcou época na Câmara de Manhuaçu

A despedida da vereadora Maria de Lucca Pinto Coelho do poder legislativo municipal no ano de 1952 é resgatada em projeto da Escola do Legislativo.
O projeto “Revivendo a História”, da Escola do Legislativo da Câmara de Manhuaçu, resgatou mais um documento que preserva a memória do poder legislativo municipal. Trata-se da carta de renúncia da então vereadora Maria de Lucca Pinto Coelho.
No dia 2 de setembro de 1952, a Câmara Municipal de Manhuaçu recebeu um documento que, à primeira vista, era apenas uma renúncia. Mas, para a história política do município, tratava-se de um registro de grande sensibilidade humana e de um marco na participação feminina na vida pública local.
O ofício, assinado por Maria de Lucca Pinto Coelho, comunicava a renúncia ao mandato de vereadora por motivos de ordem pessoal. No entanto, o texto revelava um contexto maior: a recente morte de seu esposo, Cordovil Pinto Coelho, figura conhecida e atuante na comunidade manhuaçuense.
O contexto do documento
A redação de Maria é objetiva, firme e emocionalmente contida, como se esperava das formalidades da época, mas suficiente para perceber o impacto da perda que enfrentava. Ela afirma estar “profundamente abalada” com o falecimento de Cordovil, o que inviabilizava sua continuidade na vida pública. Mesmo em luto, faz questão de dirigir palavras de respeito à câmara, agradecendo a acolhida, a consideração e o tratamento recebido durante o período em que exerceu o mandato.
Ao final, o documento traz uma anotação manuscrita determinando: “Aprovado. Convocar Felipe José de Salles.” — registro administrativo que confirma a substituição regimental para o cargo de vereador, reforçando o caráter oficial e histórico do documento.
A importância de Maria de Lucca Pinto Coelho
Em uma época em que a presença feminina na política brasileira ainda era rara, Maria de Lucca Pinto Coelho representava um avanço significativo para a Câmara Municipal de Manhuaçu. Sua atuação, mesmo breve, registrou a presença de mulheres em espaços de decisão num período em que o voto feminino ainda estava em consolidação e a participação nos cargos eletivos era muito limitada.
Seu gesto de renúncia, formalizado com rigor institucional, também revela traços da cultura política local da época — marcada pela sobriedade, pelo respeito entre pares e pelo forte peso da vida familiar na atuação pública.
O valor histórico do ofício
O documento preservado — datilografado, assinado e anotado posteriormente à mão — é hoje uma peça histórica que ilumina:
  • o cotidiano administrativo da Câmara de Manhuaçu nos anos 1950;
  • a participação de mulheres em cargos legislativos locais;
  • a relação entre vida pública e vida familiar naquela sociedade;
  • o impacto que a perda de figuras comunitárias, como Cordovil Pinto Coelho, tinha sobre a política municipal.
Mais que uma simples comunicação, o ofício de Maria de Lucca Pinto Coelho é um retrato de uma época. Ele demonstra como decisões políticas eram profundamente atravessadas por aspectos humanos, sociais e familiares – l elementos que ajudam a reconstruir a história institucional e afetiva de Manhuaçu.

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